• Entrevista de ex-funcionária ao ‘Valor’ reforça a ideia de que armou-se nos altos escalões da empresa uma forte rede de proteção ao roubo de dinheiro
A etapa de denúncia pelo Ministério Público de acusados por diversos crimes de colarinho branco investigados a partir da Operação Lava-Jato começou quinta-feira, continuou ontem, e em grande estilo. Foram encaminhados ao juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal do Paraná, na quinta, pedidos de condenação de 36 pessoas, 25 das quais executivos e alguns funcionários de escalão inferior de grandes empreiteiras(OAS, Camargo Corrêa, UTC, Mendes Junior, Engevix e Galvão Engenharia), todas implicadas no escândalo de corrupção na Petrobras. O MP pede, ainda, a devolução de mais de bilhão de reais surrupiados da estatal pelo superfaturamento de contratos, dos quais R$ 286 milhões de responsabilidade do ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, em conluio com o doleiro Alberto Youssef, responsável pela lavagem do dinheiro, incluindo remessas para o exterior.
Trata-se dos primeiros encaminhamentos de denúncias pelo MP à Justiça. Nesta fase, surgirá a muito esperada lista de políticos beneficiários do enorme golpe dado na estatal sob as bênçãos do lulopetismo.
A autópsia integral do desfalque bilionário dado nos cofres públicos via Petrobras ainda está longe de ser completada. Falta projetar luz em muitos desvãos, para se saber em detalhes como um esquema tão grande foi construído na estatal sem que os sistemas de controles alertassem. Ou alertaram e nada se fez. A entrevista ao “Valor” da geóloga Venina Velosa da Fonseca pode começar a responder a certas perguntas.
Demitida em novembro junto com funcionários de alguma maneira atingidos pela Lava-Jato — só pode ter sido por maldosa ironia —, a geóloga foi gerente na diretoria de Paulo Roberto Costa e afirma, com provas, que alertou Graça Foster, desde os tempos de diretora da atual presidente, e o sucessor de Paulo Roberto, José Carlos Consenza, sobre vários problemas: contratações irregulares, aditivos abusivos, perdas em operações internacionais com combustíveis detectadas por ela ao trabalhar no escritório da estatal em Cingapura, entre outros casos.
Nada aconteceu. Consenza até negou qualquer anormalidade ao comparecer à CPI no Congresso. O presidente anterior, José Sérgio Gabrielli, chegou a instalar comissão. Constatou-se fraude e quem cuidava dos contratos, Geovanne de Morais, do PT baiano como Gabrielli, foi demito, mas pediu licença médica e ficou mais cinco anos na estatal. Da entrevista da ex-funcionária conclui-se que havia uma rede de proteção à corrupção na empresa, proteção exercida no mínimo pela omissão. A posição de Graça, cuja demissão e de toda a diretoria foi pedida em público pelo procurador-geral Rodrigo Janot, ficou ainda mais frágil. O mesmo ocorre com Consenza.
Porém ainda falta saber muito mais sobre o apagão que permitiu que um assalto de grandes dimensões fosse praticado sem que se chamasse a polícia.
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