- O Globo
A coisa na Petrobras está tão feia que até mesmo quando um diretor é erroneamente acusado de ter sido beneficiário do esquema de corrupção, como aconteceu com José Carlos Cosenza, ele acaba sendo envolvido em outros casos relacionados, e o pedido de desculpas da Polícia Federal acaba sendo neutralizado pelas novas descobertas.
A denúncia de que a gerente Venina Velosa da Fonseca enviou e-mails à atual presidente Graça Foster e a outros superiores, incluindo Cosenza e o seu antecessor, o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, para apontar desvios em vários setores da empresa, mostra que muito antes da Operação Lava Jato a atual diretoria já tinha conhecimento dos esquemas de corrupção.
As medidas tomadas, como a demissão do responsável pela área de comunicação, ligado ao PT baiano do ex-governador Jacques Wagner e ao ex-presidente da Petrobras José Gabrielli, devido ao pagamento de R$ 58 milhões para serviços que não foram realizados em 2008, não tiveram efeito prático, pois o funcionário saiu de licença e permaneceu mais de cinco anos na empresa.
Já naquela época a gerente denunciava superfaturamento nos custos da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e nada foi feito. Em outra ponta, a Controladoria Geral da União (CGU) anunciou que investiga o aumento do patrimônio do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque e dos ex-diretores da Área Internacional Nestor Cerveró e Jorge Zelada, em processos administrativos que apuram suposta participação dos três no esquema de pagamento de propina pela empresa holandesa SBM Offshore.
Esse caso é exemplar de como as coisas não funcionam na Petrobras. A revista Veja denunciou, e a estatal tratou de desmentir, alegando que uma comissão interna nada encontrara. Agora, que a empresa holandesa confessou ter dado o suborno, a presidente Graça Foster admitiu que soubera da confirmação dias antes. Só que, como em outras ocasiões, a questão fora abafada e a diretoria da Petrobras somente comentou o assunto por que foi confirmado na imprensa no exterior.
Essa é uma das queixas dos investidores internacionais que estão processando a Petrobras nos Estados Unidos: a empresa não respeita seus acionistas minoritários, sonegando-lhes informações sobre casos de corrupção que acabaram derrubando a cotação de suas ações no Brasil e nas bolsas internacionais. E, para culminar, quem chefia a Comissão Interna de Apuração de desvios na estatal é o mesmo José Carlos Cosenza.
Os fatos mostram que não haverá solução sem que, como sugeriu o Procurador-Geral da República e a oposição agora exige, toda a diretoria seja mudada e a estatal comece da estaca zero sua reorganização.
Comissões
.O professor Nelson Franco Jobim, especialista em política internacional, me envia um comentário com o qual concordo integralmente. Diz ele: “A verdadeira Comissão da Verdade e da Reconciliação Nacional foi a da África do Sul, onde os dois lados foram ouvidos, inclusive o presidente Nelson Mandela, interrogado pelo arcebispo Desmond Tutu.
Para ter direito a anistia, quem cometeu crimes teve de confessá-los e de pedir perdão às vítimas e seus descendentes e à sociedade sul-africana. Houve declarações como "eu acreditava que meu povo, minha cultura e modo de vida estavam ameaçados, por isso ataquei uma escola para crianças negras" ou "eu estava certo de que a libertação do meu povo exigia a morte dos brancos", seguidas de pedidos de desculpas.
No Brasil, com raras exceções, ninguém se arrependeu de nada, cada lado ainda hoje convencido de que agiu corretamente.
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