- Correio Braziliense
Os políticos — como quaisquer seres humanos — se valem de signos para convencer a sociedade dos próprios objetivos. São empregados para capturar o voto do eleitor nas campanhas por meio da emoção, e não da razão. Cores, imagens, objetos, palavras, sorrisos, tudo é válido – desde que transmita alguma informação capaz de estabelecer sintonia entre o candidato e o povo, sem ter que dar muitas explicações.
Por exemplo, na sucessão de Juscelino Kubitscheck, em 1960, Jânio Quadros (UDN/PR/PL/PDC/PTN) usou uma vassoura como símbolo de campanha. Ela representava o combate à corrupção. O adversário, o marechal Henrique Teixeira Lott (PSD/PTB/PST/PSB/PRT), optou pelo óbvio: a espada, que representaria a ordem. Jânio foi eleito com 48% dos votos, contra 32% de Lott e 19%, de Adhemar de Barros (PSP), candidato cujo slogan era "rouba, mas faz".
A campanha eleitoral deste ano ocorre sob o signo da mudança, esse é o desejo de dois terços do eleitorado, insatisfeitos com a situação do país. A oposição tenta agarrar esse sentimento difuso na sociedade com as duas mãos: "Muda, Brasil", é o slogan do candidato a presidente da República do PSDB, senador Aécio Neves. Eduardo Campos, do PSB, vai na mesma linha: "Coragem para mudar".
Até a presidente Dilma Rousseff, que busca a reeleição, incorporou a palavra ao slogan de campanha: "Para o Brasil seguir mudando". O contorcionismo verbal foi a fórmula encontrada para tentar capturar esse desejo da sociedade e defender a continuidade do atual governo.
No começo do mandato, bem que Dilma tentou construir uma marca própria para o governo dela, mas não conseguiu: a "faxina" para fechar "os ralos" da administração levou um chega pra lá do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Resultado: a reeleição depende do legado deixado pelo antecessor. Onde está a mudança? Signos precisam ser traduzidos por símbolos.
A Copa das Copas
A reunião de balanço da Copa do Mundo feita por Dilma Rousseff ontem, que reuniu 16 ministros, ilustra a dificuldade do governo para construir sua marca. A capacidade gerencial de Dilma está sendo questionada pela oposição. O povo se queixa da saúde, da educação, dos transportes, da energia, da violência. A "Copa das Copas" seria uma resposta?
Alguém já disse que o sucesso é autoexplicativo. O Palácio do Planalto, porém, gastou horas de seus ministros para demostrar que foi muito competente e tem capacidade de realização. Pelo menos 13 autoridades se revezaram para contar o que fizeram na preparação e durante a realização dos jogos.
Foi o troco nos "pessimistas" que fizeram previsões alarmistas, dentro e fora do país, em relação aos jogos. Todo esforço subliminar, entretanto, foi para descolar do governo o fracasso vergonhoso da Seleção Brasileira, que levou uma goleada histórica da Alemanha por 7 x 1 na semifinal e perdeu a disputa do terceiro lugar para a Holanda por 3 x 0.
Para o governo, mais importante do que a taça perdida são os 12 novos estádios e as reformas dos aeroportos, a segurança dos jogos e a satisfação dos torcedores brasileiros e estrangeiros. A realização do evento que mais mobilizou o governo Dilma foi uma demonstração da capacidade do país. A autoestima do brasileiro foi alavancada pelo torneio.
As pesquisas realmente mostraram, durante a Copa, que a opinião pública havia virado em relação ao evento. A maioria dos que antes criticavam, passou a aplaudir o governo. O Palácio do Planalto aposta que esse sentimento não teria se alterado com as derrotas da Seleção, embora Dilma tenha sido vaiada e xingada novamente, desta vez no Maracanã. A falta de educação e o desrespeito da torcida presente ao estádio não abalou o governo, foi coisa da "elite branca".
Quem assistiu pela televisão à cerimônia na qual Dilma fez a entrega da Copa à seleção alemã não ouviu os apupos, porém, soube da vaia e percebeu que a presidente da República não estava feliz. De cara feia, em nenhum momento ela sorriu. Ou seja, o balanço oficial da Copa é uma coisa; a imagem de Dilma no domingo, outra. É aí que entra o tal do signo.
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