- O Estado de S. Paulo
A cúpula do PMDB está olhando para os movimentos políticos da presidente Dilma Rousseff e não gosta do que acredita existir por trás deles.
Por via das dúvidas, ontem à noite haveria uma pequena reunião para analisar melhor o quadro a fim de interpretar (e confirmar) se a ideia de Dilma é mesmo reduzir a influência do partido no governo, apoiando-se numa outra maioria formada por legendas antes periféricas na coalizão e, a partir dessa constatação, estudar qual seria a melhor estratégia de reação.
As coisas não vinham bem nessa parceria desde o segundo ano do primeiro mandato; pioraram na campanha, quando o PMDB em vários Estados apoiou o candidato tucano Aécio Neves - explícita e implicitamente - e ficaram péssimas depois da formação do Ministério do segundo mandato.
O partido ganhou em quantidade (foi de cinco para seis pastas), mas perdeu em qualidade. A presidente nomeou ministros ao arrepio da direção (Agricultura, Minas e Energia e Pesca) e reservou para o PMDB outros três postos sem relevância política: Turismo, Portos e Aviação Civil. Estes últimos, secretarias com status de ministérios.
Sob a ótica do critério (fisiológico), isso significa desprestígio. Em versão mais radical, castigo. Pastas muito mais robustas ficaram para o PSD (Cidades e Micro e Pequena Empresa), PROS (Educação), PRB (Esporte, em tempo de Olimpíada), PR (Transporte) e PP (Integração Nacional).
A presidente da República não está reduzindo a importância do PMDB no governo para mudar os meios e modos de montar sua equipe. Em termos de parâmetros, troca seis por meia dúzia. O modelo permanece o mesmo: sai fulano, entra beltrano.
Nesse aspecto, se for mesmo uma alteração de parceira o que a presidente está pretendendo promover, trata-se de uma manobra para lá de arriscada. Os partidos agora contemplados têm mais votos, juntos, que a bancada do PMDB. Mas não dispõem da mesma força, da provável presidência da Câmara e da maioria no Senado que lhe dá a prerrogativa do comando da Casa.
Brado retumbante. "Vossa excelência chegou ao limite da ignorância e, no entanto, prosseguiu." A perfeição da frase de Millôr Fernandes se encaixa na mais que imperfeita manifestação de Gilberto Carvalho em sua despedida da Secretaria-Geral da Presidência da República.
"Não somos ladrões!" Até aí, não obstante a impropriedade do conteúdo e a inadequação do discurso ao ambiente, direito dele escolher a frase para sintetizar o balanço de sua gestão.
A exorbitância residiu no fato de se dizer orgulhoso de pertencer à "quadrilha dos pobres" e estender aos eleitores do PT a definição de quadrilheiros.
Homens meigos. Quando interessa, a presidente Dilma Rousseff sabe muito bem tratar determinadas situações com panos quentes. Fez assim quando minimizou as críticas de Marta Suplicy ao deixar o governo, dizendo que a ex-ministra tinha "direito à opinião".
Ao que se viu no recente episódio em que obrigou Nelson Barbosa a desmentir mudança na regra de cálculo para o reajuste do salário mínimo, a intenção foi desautorizar com humilhação o ministro do Planejamento.
Barbosa não daria a notícia se a decisão não estivesse tomada internamente. E Dilma não teria autorizado a divulgação da maneira rude como exigiu o desmentido se a ideia fosse preservar, ao menos de público, a autonomia do ministro num momento em que esse quesito é visto como essencial para a condução da política econômica a um bom termo.
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