• Pressionado, Renan busca agradar Planalto e bancada
Raquel Ulhôa – Valor Econômico
Uma das principais lideranças do PMDB, o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), acredita que a presidente Dilma Rousseff trabalha para diminuir a importância do partido na base de apoio ao governo. Dilma teria estimulado a criação de partidos como o Pros, oferecendo ministérios fortes a essas siglas e a novos aliados, como Gilberto Kassab, do PSD, que ganhou a pasta das Cidades. O Pros está no comando da Educação e o PR, do mensaleiro e ex-deputado Valdemar Costa Neto, no dos Transportes. Ao PMDB restaram, entre outros, Pesca, Agricultura e Minas e Energia, sendo que, nos últimos dois casos, as escolhas foram pessoais da presidente. Dilma também teria relegado o PMDB em represália à candidatura do deputado Eduardo Cunha (RJ) à presidência da Câmara. A insatisfação da sigla, que teve mais força e prestígio no governo Lula, foi comunicada ao ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, em recente conversa.
Para agradar ao PMDB, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), transmitiu ao ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) a insatisfação da bancada com a composição do ministério e a expectativa de compensações no preenchimento dos cargos do segundo escalão. Candidato ainda não declarado à reeleição no comando do Senado, Renan joga para evitar desgaste com os colegas - especialmente o líder, Eunício Oliveira (CE), o mais irritado com a reforma -, mas precisa manter o apoio do Palácio do Planalto.
Trata-se de um malabarismo político, que levou interlocutores de Renan a divulgarem diferentes versões para a conversa com Mercadante. Segundo uma delas, claramente endereçada à bancada, Renan foi "duríssimo" com o ministro. Disse ter ficado clara articulação do Planalto para enfraquecer o PMDB, dando instrumentos políticos aos novos ministros das Cidades, Gilberto Kassab (PSD), e da Educação, Cid Gomes (Pros), e ao PR do ex-deputado Valdemar Costa Neto, para a criação de partidos aliados. No caso do PR, nomeando para os Transportes Antônio Carlos Rodrigues, ex-vereador de São Paulo.
São três ministérios importantes, enquanto o PMDB ficou com pastas consideradas politicamente fracas. "O ministério da Pesca não dá direito a um anzol para pescar", ironiza um pemedebista. Além de "massacrar" o PMDB, a articulação do Planalto teria o objetivo de derrotar o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para a presidência da Câmara.
De acordo com a versão dessa ala do partido, embora Renan tenha sido o único senador do PMDB a negociar com a presidente Dilma Rousseff, ele é responsável pelas indicações atribuídas à cota da bancada e não as considera à altura do apoio que o partido dá ao governo no Senado. Helder Barbalho (Pesca) foi indicação direta do pai, senador Jader Barbalho (PMDB-PA); e Kátia Abreu (Agricultura) e Eduardo Braga (Minas e Energia), escolhas pessoais de Dilma. Há relatos - contraditórios - de discussão entre Jader e Renan, por causa da nomeação de Helder.
"Tudo bem, façam esse jogo e levem Kassab, Cid e Valdemar para articular as votações de interesse do governo no Senado", teria dito Renan a Mercadante, segundo um participante do encontro, no dia 2, na residência oficial do vice-presidente da República, Michel Temer. Entre os presentes estava Eduardo Cunha. Seria uma sinalização de que o comando do PMDB decidira fortalecer sua candidatura a presidente da Câmara, contrariando interesses do governo. "Como se disséssemos que a derrota dele, agora, seria do PMDB", explicou um dirigente do partido. "Nunca vi Renan tão aborrecido", disse.
Também estavam na reunião os ministros Pepe Vargas (Relações Institucionais) e Ricardo Berzoini (Comunicações). Do lado do PMDB, Temer, Renan, Cunha e Eunício.
A outra versão do encontro é que a conversa teria sido bem mais branda - mais coerente com o estilo de Renan -, embora ele tenha reproduzido queixas dos colegas. Diferentemente do outro relato, nesse caso, Renan é citado como satisfeito com a reforma, por manter o ministro do Turismo, Vinícius Lage, sua indicação pessoal, e considerar Eduardo Braga um dos senadores mais próximos a ele. Além disso, a nomeação do filho de Jader não teria sido à sua revelia. À noite, Renan divulgou nota negando qualquer insatisfação do PMDB com a montagem do ministério.
A queixa de Eunício deve-se ao fato de ter ficado de fora do ministério, embora seu nome tenha sido levado por Renan a Dilma - com o agravante de seu desafeto político, o ex-governador Cid Gomes, ter ficado com o poderoso Ministério da Educação.
Senadores pemedebistas dizem que Renan tem razão para se preocupar em defender interesses dos senadores do partido. A avaliação é que existe uma tendência da bancada que toma posse em fevereiro pela independência em relação ao governo. Por enquanto, nenhum parlamentar está disposto a concorrer com Renan pela presidência do Senado, mas, nos bastidores, há uma torcida para que ele se inviabilize e a bancada possa escolher alguém com menos interesse no governo.
Entre os "independentes", um dos mais cotados é o do senador Luiz Henrique (SC), que foi governador e presidente nacional do PMDB. Mas Eunício Oliveira, pela função de líder, é considerado o candidato natural, se Renan desistir. O que poderia motivar uma desistência, na opinião de pemedebistas, seria o envolvimento do seu nome no esquema de corrupção da Petrobras, investigado pela Polícia Federal na operação Lava-Jato.
Para aliados de Renan, no momento em que ele verbaliza a insatisfação da bancada com a reforma ministerial, sua posição é reforçada com os colegas. E as informações sobre suposto enfrentamento dele com Mercadante aproximaria o presidente do Senado da ala que defende maior autonomia do Legislativo em relação ao Planalto.
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