• Em 2014, a balança comercial teve o primeiro rombo em 14 anos. Não foi pouca coisa. Foi de US$ 3,9 bilhões
O Estado de S. Paulo
O mau desempenho da balança comercial é mais um indicador de que o governo não entendeu o que aconteceu.
Até novembro, tanto o Ministério do Desenvolvimento quanto o Banco Central (BC) ainda trabalhavam com alentados superávits comerciais (exportações superiores às importações). O ministro Mauro Borges falava em um resultado positivo no ano, mesmo tendo apresentado déficit de US$ 4,2 bilhões até novembro. O BC começou 2014 apontando para superávit de US$ 10 bilhões. Ao longo do ano, admitiu reduções sucessivas, mas só em novembro estimou números negativos, de US$ 2,5 bilhões. Mas o resultado foi um rombo ainda maior, o primeiro em 14 anos. Não foi pouca coisa. Foi de US$ 3,9 bilhões.
É preciso reconhecer que não ficou fácil de projetar o comportamento da balança comercial porque esta também foi uma conta sujeita a pedaladas e certa manipulação. Ao final de 2012, por exemplo, o governo optou por empurrar para 2013 importações de derivados de petróleo, com o suposto objetivo de enfeitar estatísticas. Em seguida, as exportações de 2013 e de 2014 foram infladas com transferências “fictas” de plataformas da Petrobrás, exportadas para ela mesma (para subsidiárias no exterior), mas automaticamente assumidas como equipamento arrendado. As plataformas não saíram das águas do País e cada uma dessas operações engordou as exportações em mais de US$ 2 bilhões, que fizeram diferença, sim, no resultado.
Essas manobras contribuíram para sustentar a falsa impressão de que nada havia de errado com a balança comercial nem com a balança de transações correntes da qual essa conta é parte.
E, no entanto, a balança comercial enfrenta problemas, cujo impacto foi subestimado pelo governo. O primeiro deles tem a ver com os efeitos da política anticíclica adotada. O excesso de despesas públicas e as transferências de renda acirraram o consumo. Como a indústria não tem competitividade, as importações tiveram de ser acionadas e foram fator decisivo para o desequilíbrio.
O segundo é a falta de percepção do governo de que os ventos viraram. Esgotou-se a temporada dos alentados preços das commodities. A tonelada de minério de ferro, que já esteve perto dos US$ 200 em fevereiro de 2011, agora é negociada a US$ 70. Quando a Petrobrás chegou às vésperas de um grande salto da produção e terá excedentes para exportar, eis que o preço do barril de petróleo veio abaixo. Em junho de 2014, ainda era negociado acima de US$ 100; agora vale US$ 50.
Ou seja, a tonelagem exportada está agora pagando menos tonelagem importada. Em termos mais técnicos, os termos de troca caíram cerca de 18% em três anos. E isso terá impacto sobre as contas externas, num momento delicado, em que o País precisa de dólares para bancar seus investimentos.
Ainda assim, as perspectivas de um resultado positivo em 2015 aumentaram por duas razões. Primeira, porque a desvalorização cambial (alta do dólar) aumentou a competitividade do produto brasileiro. E, segunda, porque o ano de ajuste tende a frear o consumo e, portanto, a demanda de produtos importados.
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