Investigação chega a Dirceu
• Lava-Jato identifica R$ 4 milhões em repasses de empreiteiras à empresa de ex-ministro
- O Globo
SÃO PAULO- A Justiça quebrou o sigilo fiscal e bancário da JD Consultoria, empresa do ex-ministro José Dirceu, que cumpre pena por sua condenação no julgamento do mensalão. Documentos obtidos nas investigação da Operação Lava-Jato revelam que a JD recebeu quase R$ 4 milhões de empreiteiras denunciadas no esquema de corrupção na Petrobras. Segundo o "Jornal Nacional", a empresa recebeu recursos da Galvão Engenharia, da OAS e da UTC, cujo executivos estão presos em Curitiba. A empresa que Dirceu tem com seu irmão, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, recebeu R$ 720 mil da OAS, de janeiro de 2010 a dezembro de 2011. Também ganhou R$ 725 mil da Galvão Engenharia, entre 2009 e 2011, e R$ 2,3 milhões da UTC, em 2012 e 2013. Os procuradores chegaram à empresa de Dirceu ao analisar documentos da Receita Federal que mostram transferências bancarias das três construtoras.
Dirceu está preso desde 2013
Segundo Gabriela Hardt, juíza substituta da 13ª Vara Federal de Curitiba, que decretou a quebra dos sigilos da empresa, o objetivo é identificar se houve outros pagamentos suspeitos à JD e se Dirceu e o irmão foram ou não beneficiados pelo esquema de distribuição de propina na Petrobras. Entre 2009 a 2013, Dirceu não exercia cargo público. Ele deixou o cargo de ministro da Casa Civil em junho de 2005. No mesmo ano, em dezembro, teve cassado seu mandato de deputado feder al. No julgamento do mensalão, foi condenado a sete anos e 11 meses de prisão por corrupção ativa. Dirceu foi preso em 15 de novembro de 2013. Ficou em regime fechado até novembro de 2014, quando passou a cumprir o regime semiaberto.
Relação com Camargo Corrêa
Em dezembro do ano passado, a PF apreendeu, na Camargo Corrêa, contrato até então sigiloso entre a empreiteira e Dirceu. O contrato foi publicado no site da revista "Época", e valia quase R$ 900 mil para pagamentos mensais durante um ano. O documento foi assinado em abril de 2010 entre a Camargo Corrêa e a JD Assessoria e Consultoria, do ex-ministro. Dirceu foi contratado para fazer análises de aspectos sociológicos e políticos do Brasil, entre outros serviços. Os pagamentos foram de R$ 75 mil por mês. Comprovantes apreendidos mostram que, de maio de 2010 a fevereiro de 2011 o contrato rendeu à JD R$ 886,5 mil. A JDA , em nota divulgada ontem à noite, afirmou que "prestou consultoria às empresas UTC, OAS e Galvão Engenharia, conforme contratos, para atuação em mercados externos, sobretudo na América Latina e Europa". Segundo a nota, esses ser viços não têm qualquer relação com a investigação na Operação Lava Jato.
Executivo acusa governo
Um dos executivos ainda presos na Lava-Jato, o vice-presidente da Engevix, Gerson de Mello Almada, afirmou, em petição enviada ontem ao processo na Justiça Federal, que o governo federal foi loteado para "satisfazer partidos políticos". Segundo Almada, a Petrobras foi usada para arrecadar dinheiro que abasteceria a base aliada no Congresso. Na petição, protocolada na Justiça Federal do Paraná, Almada disse que Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da estatal e um dos principais delatores do esquema, era o personagem escolhido por agentes do governo para achacar as empreiteiras. "Não por coincidência, a antes lucrativa sociedade por ações, Petrobras, foi escolhida para geração desses montantes necessários à compra da base aliada do governo e aos cofres das agremiações partidárias", afirmou a defesa.
O documento é uma resposta às denúncias feitas pelo Ministério Público Federal (MPF) em novembro, que acusou Almada e outras 38 pessoas, entre eles o doleiro Alberto Youssef, Costa e o ex-diretor da área Internacional da estatal, Nestor Cerveró, de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Os advogados de Almada defendem a tese de que o ex-diretor de Abastecimento ameaçava as empresas a pagarem as propinas: "Nessa combinação de interesses escusos, surgem personagens como Paulo Roberto Costa, que, sabidamente, passou a exigir percentuais de todos os empresários que atendiam a companhia. Leia-se, exigir.
O que ele fazia era ameaçar, um a um, aos empresários, com o poder econômico da Petrobras. Prometia causar prejuízos no curso de contratos". A principal tese da defesa para desqualificar a ação proposta pelo MPF é a de que a acusação dos promotores não pode ser aceita pela Justiça pois não levaria em conta o "plano de manutenção" de poder do PT. Procurados, o governo federal e a Petrobras não se manifestaram. O MPF informou que os procuradores "vão se manifestar apenas nos autos". A defesa de Paulo Roberto Costa não foi encontrada.
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