Letícia Casado – Valor Econômico
O esquema de corrupção que desviou dinheiro da Petrobras nos últimos dez anos influenciou o resultado das eleições de 2006, de 2010 e possivelmente de 2014, disse ao Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, o advogado Antonio Figueiredo Basto, que defende o doleiro Alberto Youssef, um dos 11 delatores da Operação Lava-Jato.
Basto diz que os agentes públicos e políticos foram os grandes beneficiários do esquema de corrupção, "feito para que o grupo que estava no poder se perpetuasse". Ele ressalta que o rumo da Operação Lava-Jato indica que o dinheiro desviado da Petrobras irrigou campanhas políticas e, portanto, teria influenciado no resultado das eleições majoritárias desde 2006.
A campanha do ano passado pode ter sido menos influenciada, na visão do advogado, porque a operação estourou em março de 2014, e isso pode ter diminuído o fluxo de recursos ilícitos para os caixas das campanhas.
"A participação dos políticos e dos agentes públicos foi fundamental no esquema. Não dá para desviar o foco para empreiteiras e operadores. O esquema foi comandado por agentes políticos para a manutenção de grupos e partidos no poder. O esquema alterou os resultados das eleições de 2006, 2010 e possivelmente de 2014. Houve desequilíbrio no pleito", disse Basto.
Outro delator, o executivo Augusto Mendonça Neto, da Setal, disse em depoimento que pagou propina ao ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque por meio de doação de campanha ao PT. Ele disse ter doado R$ 4 milhões entre 2008 e 2011 ao PT a pedido de Duque como pagamento de propina para a realização de obras na Refinaria do Paraná (Repar).
Em fevereiro Figueiredo Basto deve pedir prisão domiciliar para Alberto Youssef. Depois, ao fim do processo, vai tentar o perdão judicial para seu cliente, porque ele teria prestado colaboração "eficaz" e importante para a sociedade.
A delação premiada de Youssef já foi homologada pelo ministro do STF Teori Zavascki, e os termos do acordo vieram a público na noite de ontem. A pena mínima que Youssef deve pegar é de três anos, e a máxima, de cinco. Segundo Basto, o resultado do acordo foi "excelente".
Como Youssef já havia feito um acordo de delação premiada em dezembro de 2004 e voltou a cometer crimes, conforme disse o advogado, "a situação dele é peculiar". Os depoimentos de Youssef serão essenciais para combater as "organizações" que teriam irrigado o esquema, disse o advogado.
O advogado não quis falar sobre a quantidade de nomes ou partidos políticos citados por Youssef em suas mais de cem horas de depoimento à PF, mas o doleiro teria citado mais de 50 pessoas envolvidas no esquema, entre políticos, agentes públicos, operadores e executivos. "A credibilidade do meu cliente é atestada pelo procurador-geral da República e o acordo foi homologado [Rodrigo Janot] e pela mais alta Corte do país [STF]", disse Basto.
Figueiredo Basto disse que a tensão em Brasília em razão dos nomes citados pelo doleiro é "normal", uma vez que "a participação dos políticos foi fundamental para que o esquema se perpetuasse".
O advogado não quis comentar se a família de Youssef estaria tendo algum esquema de proteção especial por causa da dos nomes citados pelo doleiro. Disse que o tema é sigiloso e que Polícia Federal e Ministério Público Federal já tomaram providências.
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