Arícia Martins e Camilla Veras Mota – Valor Econômico
Além do aumento já contratado das contas de luz, os reajustes de transporte urbano serão outra pressão importante sobre o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro. Em São Paulo, as passagens subiram ontem, mas outras três capitais que compõem o IPCA já estavam pagando tarifas maiores: Rio, Belo Horizonte e Salvador. Segundo economistas ouvidos pelo Valor, juntas, as quatro correções devem adicionar cerca de 0,2 ponto percentual à inflação oficial do primeiro mês do ano.
Colocando na conta outros impactos além da energia, como a recomposição da Cide, aumentos de táxi em algumas capitais e o encarecimento de cigarros, as previsões para o IPCA de janeiro estão em cerca de 1%. Se confirmada, essa seria a maior alta do indicador para o primeiro mês do ano desde 2003, quando a inflação foi de 2,25% no período.
Segundo Flávio Serrano, economista-sênior do banco Besi Brasil, o principal impacto sobre os preços de transporte público vai partir da capital paulista, onde as tarifas de ônibus municipais, trem e metrô passaram de R$ 3 para R$ 3,50, aumento de quase 17%. No Rio, o ônibus municipal subiu de R$ 3 para R$ 3,40 no dia 3. Em Belo Horizonte, o reajuste de R$ 2,85 para R$ 3,10 em 80% das linhas convencionais entrou em vigor em 29 de dezembro. Em Salvador, a passagem de ônibus passou de R$ 2,80 para R$ 3 no primeiro dia do ano.
Em conjunto, Serrano calcula que os reajustes vão adicionar 0,2 ponto percentual ao indicador oficial de inflação de janeiro, que deve ficar entre 1% e 1,1%. Na média, o item ônibus urbano deve avançar 8,1% no período. Segundo o economista, cinco pontos desse percentual virão apenas da cidade de São Paulo. "O IPCA de janeiro será mais pesado, mas não só por conta disso", diz, acrescentando que, por conta das bandeiras tarifárias, a energia deve aumentar cerca de 10%, principal influência de alta sobre a inflação do período.
A economista Adriana Molinari, da Tendências Consultoria, também projeta contribuição de 0,2 ponto dos reajustes de transporte público para o IPCA de janeiro, com alta de 8,25% nos preços. A estimativa mais alta para o índice fechado - de 1,32%, que levaria o acumulado em 12 meses a 7,22%, patamar bastante superior ao teto da meta, de 6,5% -, leva em conta o risco de recomposição integral da Cide, contribuição sobre os combustíveis.
Se o imposto chegar a R$ 0,28 por litro, a gasolina deve ficar 9,7% mais cara na bomba e elevar a inflação em 0,36 ponto percentual. Caso não se concretize, parte do impacto pode ser compensado pelo aumento de 8,5% nos preços anunciado pela Souza Cruz - uma antecipação à alta do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para o setor de tabaco esperada para este mês - e pelo reajuste de tarifas de transporte em outras capitais.
Para o economista-chefe da Icatu Vanguarda, Rodrigo Alves de Melo, a recomposição da Cide deve ocorrer entre fevereiro e março, mas, por outro lado, mais cidades ainda podem anunciar aumentos de transporte público nos próximos dias. Em sua previsão de alta de 7% para o ônibus urbano em janeiro, Melo inclui reajuste de 15% das tarifas de ônibus municipal no Recife, e de 10% em Fortaleza.
"Outras capitais tendem a ter reajuste mais à frente e outros itens administrados também, mas a concentração desses aumentos ocorrerá em janeiro. É um movimento pontual de recomposição de administrados", diz Melo, para quem o IPCA vai avançar cerca de 1% no mês. Com essa alta, a inflação acumulada em 12 meses começaria o ano em quase 7%. Ele ainda lembra que os preços de táxi, que subiram em São Paulo e no Rio, devem avançar 3% em janeiro, o que vai acrescentar mais 0,1 ponto à inflação mensal do período.
Também entre as maiores pressões esperadas para janeiro, a energia elétrica subirá 8,8% e adicionará 0,26 ponto ao índice, estima Adriana, da Tendências. "Todos os subsistemas estão com bandeira vermelha", afirmou, em referência ao sistema de bandeiras tarifárias vigente desde o dia 1º.
Fabio Romão, da LCA Consultores, espera alta semelhante para a energia e aumento de 8,26% no item ônibus urbano - uma pressão adicional de 0,25 e de 0,21 ponto, respectivamente, no índice de janeiro, que deve subir 1,13%, calcula o economista. "Os administrados voltam com tudo neste começo de ano", comenta.
Os preços dos alimentos, sazonalmente maiores no começo do ano, devem avançar mais do que em janeiro de 2013 (0,84%) e aumentar 0,94%, estima Romão. As principais contribuições para essa alta devem vir de culturas de curto prazo, como hortaliças, frutas e verduras, afetadas pelas chuvas fortes no mês.
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