A expansão do mercado de trabalho foi uma das principais bandeiras da presidente Dilma Rousseff na campanha de reeleição de 2014. A poucos dias do segundo turno, em carreata no Rio de Janeiro, a presidente disse que a decisão dos eleitores seria entre os que "colocam as pessoas no centro de tudo e defendem o emprego e os salários" e os que "se ajoelharam para o FMI". Ironicamente, porém, o ano passado foi marcado pelo menor registro de criação de emprego desde 2002.
Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) informam que foram criadas 396,9 mil novas vagas em 2014, pouco mais de um terço do registrado em 2013. Nos quatro anos do primeiro mandato de Dilma, os novos empregos formais totalizaram 5,3 milhões, incluindo os dados entregues fora do prazo, número inferior aos 7,4 milhões abertos no segundo mandato e aos 5,6 milhões do primeiro mandato do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva.
A criação de postos formais de trabalho está em queda desde o início da administração de Dilma e reflete a perda de vitalidade da economia, que teve um crescimento médio anual inferior a 1,5%, na contramão da escalada de estímulos fiscais e monetários distribuídos pela presidente. O desempenho foi pior no ano passado, quando a economia enfrentou recessão no primeiro semestre, influenciado pela paradeira das atividades ocasionada pela Copa do Mundo, e resultado fraco no segundo, afetado pelo clima de indefinição gerado pela disputa eleitoral. Mas dezembro, tradicionalmente um mês ruim para o mercado de trabalho, marcado pelas demissões dos temporários contratados para o fim do ano, registrou o fechamento de 555,5 mil vagas e foi fundamental para o resultado ruim do ano.
O mercado de trabalho foi um verdadeiro espelho da economia em 2014. A indústria da transformação foi o segmento que mais perdeu vagas no ano passado, 163,8 mil, abalada pela queda de 3,2% da produção industrial de janeiro a novembro. A construção civil foi o segundo setor mais afetado, com redução de 106,5 mil vagas no ano.
O setor de serviços contrabalançou, com a criação de 476,1 mil vagas, seguido pelo comércio, com 180,8 mil novos postos. Nos quatro anos do governo Dilma, os serviços foram os responsáveis por metade dos empregos criados, com 2,69 milhões de novas vagas. Segundo o professor Jorge Arbache (Valor 12/12/2014 e 19/01/2015), o setor de serviços responde por nada menos que 70% do Produto Interno Bruto (PIB), 74% da força de trabalho e por 83 de cada 100 novos postos de trabalho formal. Tanta relevância na economia, porém, é uma anomalia, segundo o professor.
Arbache explica que o padrão de crescimento da economia brasileira na última década, puxado pela expansão da renda, desenvolveu a demanda por serviços de baixo valor agregado como cabeleireiro, telefonia celular e internet, enquanto que os serviços sofisticados perderam espaço com o enfraquecimento da indústria. Os serviços que predominam são de baixa produtividade e valor agregado. Mas até o setor de serviços vem perdendo o fôlego.
O desempenho mais fraco do mercado de trabalho ainda não se reflete nos dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dada a diferença de metodologia e de abrangência das duas pesquisas. Enquanto o Caged engloba o emprego formal em todo o país, a PME acompanha também o informal em seis regiões metropolitanas.
Mas é inevitável que a situação do mercado de trabalho seja levada em conta na definição do ajuste econômico que foi tema da reunião ministerial realizada ontem. As perspectivas para a economia neste ano já são até mais pessimistas do que o resultado esperado para 2014 por causa das medidas fiscais necessárias para ajustar as contas públicas, da elevação dos juros, das restrições de energia e de abastecimento de água e do cenário internacional. Pesquisa Focus divulgada nesta semana revelou a redução da taxa projetada para o PIB deste ano de 0,38% para 0,13%.
Normalmente otimista, o ministro do Trabalho, Manoel Dias, evitou fazer previsões sobre o mercado de trabalho neste ano. Provavelmente não quis correr o risco de errar, como aconteceu em 2014, quando começou o ano prevendo a abertura de até 1,5 milhão de vagas, reduziu posteriormente o número para 1 milhão, e não acertou.
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