quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Bernardo Mello Franco - A volta do que não foi

- Folha de S. Paulo

A volta de Roberto Mangabeira Unger, com suas caretas enfezadas e seu sotaque de americano de novela, dá um toque de comédia a um ministério que já havia se anunciado como tragédia.

O filósofo reassumirá a Secretaria de Assuntos Estratégicos, que chefiou entre 2007 e 2009. Tomará posse nesta quinta (5), no Palácio do Planalto, enquanto o país está voltado para a Petrobras à espera de mudanças que realmente interessam.

Mangabeira é um símbolo da incoerência que mina a credibilidade da política brasileira. Em 2005, defendeu o impeachment de Lula em artigo na Folha. "Afirmo que o governo Lula é o mais corrupto de nossa história nacional", escreveu.

Quinze meses depois, deixou a afirmação de lado e aceitou convite de Lula para assumir a Secretaria Especial de Ações de Longo Prazo, que atendia pela sugestiva sigla Sealopra. A pasta mudou de nome, mas não deixou de ser motivo de piada por sua irrelevância no governo.

O novo ministro também encarna outro personagem tipicamente brasileiro: o ideólogo em busca permanente por um político para vocalizar suas ideias. Já se apresentou como guru de Ulysses Guimarães, Leonel Brizola, Ciro Gomes e José Alencar.

Transitou por PMDB, PDT, PPS, PR e PRB. Em 2006, ensaiou um raro voo solo pelo nanico PHS, insinuando-se como candidato à Presidência. Só conseguiu empolgar o cantor Caetano Veloso. Logo voltaria a procurar uma sombra, até encontrar a proteção de Alencar. Agora retorna ao governo pelo PMDB, partido do vice-presidente Michel Temer.

Na primeira passagem pela Esplanada, Mangabeira se notabilizou pelas ideias exóticas e sem resultado. Na mais memorável, propôs a construção de aquedutos que transportariam água da Amazônia para o sertão do Nordeste."Numa região, sobra água, inutilmente. Na outra, falta água, calamitosamente", explicou.

Quem temia a seca do Cantareira já pode tomar banho tranquilo.

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