• Lava-Jato: PF cumpre mandados em SP, Rio, BA e SC e leva tesoureiro do PT para depor
• Nona etapa da operação investiga desvios de verbas na Petrobras e conta com 200 agentes
Jailton de Carvalho e Cleide Carvalho – O Globo
BRASÍLIA e CURITIBA - A Polícia Federal deflagrou na madrugada desta quinta-feira a nona etapa da Operação Lava-Jato e cumpre nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Santa Catarina 62 mandados contra investigados de corrupção ativa, lavagem de dinheiro, organização criminosa e fraude em licitação na investigação que apura desvio de verbas na Petrobras. No total, a PF tenta cumprir um mandado de prisão preventiva, três temporárias, 40 de busca e apreensão e 18 conduções coercitivas, quando a pessoa é conduzida até a delegacia para prestar depoimento. Entre estes últimos está o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, apontado como operador do esquema criminoso no depoimento do ex-gerente da estatal Pedro Barusco, que acusa o membro do partido de pedir propina.
Segundo a PF, contribuíram para esta nova etapa da operação as informações oriundas da colaboração de um dos investigados, além da denúncia apresentada por uma ex-funcionária de uma das empresas investigadas.A ação, que acontece após análise de documentos e contratos apreendidos, conta com 200 policiais e 25 servidores da Receita, tem como alvos centrais operadores do esquema responsáveis por pagamentos. Segundo fontes ouvidas pelo GLOBO em Curitiba, um dos presos no Rio é um novo operador do esquema, que fazia papel semelhante ao do doleiro Alberto Youssef.
Contra Vaccari pesa ainda a suspeita de que sua cunhada, Marice Correia de Lima, teria recebido, em dezembro de 2013, R$ 110 mil de Youssef, por ordem do executivo da OAS, José Ricardo Breghirolli, preso preventivamente na Polícia Federal do Paraná.
Documentos obtidos pelo GLOBO mostram grande proximidade de Vaccari com a cunhada. Em 2002, Marice comprou uma casa dele na rua Loefgreen, em São Paulo. De 2001 a 2009, Marice foi sócia da irmã Giselda (mulher de Vaccari) na Delilah Presentes e Decorações Ltda, na Rua Frei Caneca, em São Paulo.
A Operação Lava-Jato foi deflagrada em 17 de março pela Polícia Federal (PF) para investigar um suposto esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Na época, foram presas 24 pessoas, entre elas Youssef. Os detidos foram acusados de participar de uma organização criminosa que tinha o objetivo de lavar R$ 10 bilhões oriundos de desvio de dinheiro público, tráfico de drogas e contrabando de pedras preciosas.
A operação foi consequência da prisão do empresário André Santos, em dezembro de 2013, com US$ 289 mil e R$ 13.950 escondido nas meias. Santos é réu em ação na qual é acusado de fazer parte do braço financeiro de uma quadrilha de libaneses especializada em contrabandear produtos do Paraguai, operando um esquema de lavagem.
A operação colocou sob suspeita contratos assinados pela Petrobras. Isso porque o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa foi preso, no dia 20 de março, sob acusação de envolvimento com o doleiro Youssef. Costa, que foi detido quando queimava documentos que poderiam se configurar como provas do envolvimento, reconheceu ter recebido de Youssef um carro de luxo. Ele alegou, no entanto, que o presente seria o pagamento por uma consultoria prestada.
Empreiteiras suspeitas de abastecer o esquema de Youssef e do ex-diretor da Petrobras declararam à Receita Federal os pagamentos feitos a empresas dos dois principais acusados na Operação Lava-Jato. Documentos comprovaram repasses efetivos de recursos às empresas do doleiro e do ex-diretor, como consta nas declarações de retenção de impostos das próprias empreiteiras. Entre as depositantes estão as construtoras OAS, Mendes Júnior e Camargo Corrêa, apontadas pela contadora do doleiro Meire Bonfim Poza como integrantes do esquema.
O escândalo do doleiro Youssef respingou ainda sobre o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT-SP) e levou André Vargas a se desfiliar do partido para manter o mandato de deputado federal. Vargas é suspeito de fazer parte de um esquema de tráfico de influência e lobby em favor de Youssef junto ao Ministério da Saúde. Vargas usou um jato providenciado pelo doleiro para fazer uma viagem familiar e teria se beneficiado de uma série de outros favores.
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