quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Pressionada, Graça renuncia à presidência da Petrobras

• Cinco dos sete diretores não aceitaram esperar até o fim do mês para sair

• Pedido de explicação feito pela CVM obrigou a diretoria da estatal a se pronunciar sobre as saídas já nesta quarta

Andréia Sadi, Natuza Nery – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Um dia após acertar a saída coletiva da diretoria da Petrobras com Dilma Rousseff para o fim do mês, Graça Foster renunciou à presidência da estatal nesta quarta (4) diante da recusa dos demais diretores de permanecer nos cargos por mais três semanas.

Como a Folha revelou, cinco dos sete diretores da estatal não aceitaram o cronograma de troca definido pela presidente da República. Restou a Graça informar Dilma de que já não tinha condições de controlar os demais colegas de diretoria e que a mudança teria que ser antecipada para esta sexta-feira (6).

Em comunicado ao mercado emitido na manhã desta quarta, a empresa afirmou que o Conselho de Administração se reunirá na sexta para eleger a nova diretoria.

Na terça-feira (3), Dilma e Graça se reuniram no Palácio do Planalto para discutir a situação da executiva.

Graça apresentou as cartas de renúncia dos diretores, mas a presidente argumentou que precisava de tempo para achar substitutos. Ficou definida, então, a saída do grupo até o fim do mês, após a publicação do prejuízo decorrente de corrupção na estatal.

Há quase um ano, a Operação Lava Jato, da Polícia Federal, descobriu um esquema de desvios de recursos da estatal para beneficiar empresas e políticos. Desde então, a situação financeira da empresa só se agravou.

A presidente, que até aqui jamais concordara com a renúncia de Graça, passou a considerar na semana passada a demissão da auxiliar.

Acreditava que a amiga havia perdido as condições de conduzir a empresa durante sua maior crise. Dilma é defensora incondicional do caráter da auxiliar, e lamenta vê-la saindo mesmo sem ser acusada de irregularidades.

Nos últimos dias, Graça começou apresentar sinais do desgaste emocional provocado por toda a situação vivida. À presidente lamentou muito o fato de seu prédio ter sido cercado por manifestantes, levando sua família a constrangimentos.

Ela, entretanto, estava disposta a atender o último pedido da chefe de ficar por um pouco mais de tempo. Acabou surpreendida pela recusa dos demais diretores, que não quiseram prolongar ainda mais o que chamaram de processo de "fritura" nos cargos.

Graça telefonou para Dilma na noite da terça para informar da decisão colegiada.

Substituto
Dois diretores não assinaram a renúncia coletiva. José Eduardo Dutra, afastado por motivos de saúde, e o diretor de Governança, Risco e Conformidade da Petrobras, João Elek, recém-empossado no cargo. Dutra já havia manifestado seu desejo de deixar a diretoria após o recrudescimento das denúncias.

A intenção da Petrobras era só informar sobre a renúncia coletiva na sexta, mas o pedido de explicações feito pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), a xerife do mercado financeiro) sobre reportagem da Folhainformando que o Planalto já havia decidido pela substituição de Graça obrigou a diretoria a se pronunciar e a informar a decisão nesta quarta.

Até a conclusão desta edição, o Palácio do Planalto não tinha a confirmação de um substituto de Graça.

Colaboraram Pedro Soares e Lucas Vettorazzo, do Rio

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