• Dilma ainda não entendeu o funcionamento do Congresso Nacional
Paulo Celso Pereira – O Globo
BRASÍLIA - Pouco após ser eleita, a presidente Dilma Rousseff resolveu enfrentar as críticas vindouras e nomear o liberal Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, indo contra tudo o que pregou durante a campanha eleitoral. Ex-colaborador do programa tucano de Aécio Neves, Levy assumiu e passou a anunciar cortes de benefícios sociais e aumento de impostos. Dilma se encapsulou no Planalto, mas admitiu que não lhe restava alternativa a não ser aplicar o remédio amargo, confiando ser esta a única forma de recuperar a economia depois de um mandato com o mais baixo crescimento econômico desde o do ex-presidente Fernando Collor de Mello.
Se a eleição ganha pela menor margem da História brasileira a convenceu a mudar a gestão econômica, o mesmo não ocorreu em relação à condução política. O maior símbolo da falência da gestão política do governo foi a eleição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) com quase o dobro de votos de Arlindo Chinaglia (PT-SP), que tinha todos os ministros próximos à presidente atuando abertamente em sua campanha. Esse percalço foi consequência direta do estilo adotado no primeiro mandato da presidente, quando evitou ao máximo receber parlamentares e manteve permanentemente uma visão utilitarista do Congresso.
Até hoje, Dilma parece não ter percebido que deputados e senadores têm a mesma legitimidade do presidente, justamente por terem chegado a Brasília pelos mesmos meios: o voto direto. Cabe ao Poder Executivo, portanto, dialogar com eles e tentar, sempre que possível, partilhar políticas públicas.
Se há muitos congressistas que estão na política em busca de vantagens financeiras, boa parte tenta ali realizar obras em suas bases eleitorais ou aprovar medidas que atendam seus eleitores. Isso denota poder e prestígio - e lhes rende votos. Fernando Henrique Cardoso e Lula conseguiram, com muitos gestos, um tanto de lábia e talvez menos cargos do que Dilma deu, ter uma vida parlamentar sustentável - incluindo algumas derrotas pontuais, como, aliás, deve ser em uma democracia.
Agora, em meio ao infindável rol de acusações envolvendo a Petrobras, que parece chegar inevitavelmente ao financiamento das campanhas do PT, incluindo a presidencial, resta à presidente abandonar seus preconceitos e se esforçar para entender, como fez na economia, o funcionamento do sistema político.
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