- O Globo
Os gregos fizeram um enorme esforço. Eles chegaram a ter, antes do ajuste fiscal, 10% de déficit primário e agora estão com superávit de 1,5%. Tinham 10% de déficit nominal e agora estão com apenas 2%. O desequilíbrio externo foi de 10% para zero. Mas o desemprego permanece avassalador. O novo governo quer uma ajuda da Europa e não foi atendido. É hora de olhar além da economia.
Yanis Varoufakis e Wolfgang Schäuble, ministros das Finanças da Grécia e da Alemanha, encontraram-se pela primeira vez desde a vitória do partido de ultraesquerda Syriza. Os dois não se entenderam nem sobre o que conversaram. Na coletiva conjunta que deram, Schäuble disse que os dois tinham "concordado em discordar". E Yanis reagiu. "Nem isso. Não concordamos em discordar". E disse mais, o novo ministro grego. Lembrou que a crise econômica alemã criou as condições para o nazismo e "hoje na Grécia a terceira força política é nazista. Não é neonazista. É nazista". Referia-se à Aurora Dourada. O economista José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV, ajuda a explicar o problema:
- Eles fizeram um enorme esforço fiscal, mas o desemprego continua muito alto na Grécia. Era de 27% e agora é de 25%. Chegou a ser 60% entre jovens e agora caiu para 50%. A dívida bruta continua em 175%.
O governo de Alexis Tsipras, do Syriza, quer um empréstimo-ponte e o refinanciamento da dívida. O Banco Central Europeu não concordou. A Europa teme ceder para a Grécia e abrir a porteira para outros pedidos.
A posição inflexível da Europa tem explicação. A extrema-esquerda ganhou na Grécia com o discurso de fim da austeridade, e não foi o fim do mundo. Isso deixou claro que a zona do euro criou mecanismos contra o contágio. Antes, a Grécia era resgatada pelo temor de que criasse um efeito dominó. Se não há risco de contágio, o país fica mais sozinho. Os juros dos títulos de 10 anos da Grécia subiram de 6% para 10%, com a mudança política. Mas, nos outros países, continuam caindo (veja o gráfico). Detalhe: o Brasil paga juros maiores que os gregos nos papéis de 10 anos.
A primeira medida do novo primeiro-ministro Alexis Tsipras é de dar inveja a um certo país da América do Sul: reduziu de 20 para 10 o número de ministérios. Depois, avisou que quer combater a sonegação e a corrupção. Do radicalismo do palanque ficaram algumas promessas de aumentos de salários.
Os gregos fizeram nestes seis anos um enorme, e doloroso, dever de casa. Eles viviam além de suas posses e se endividaram mais do que era razoável.
- Os gregos impuseram uma enorme correção para baixo nos salários e isso diminuiu o custo unitário do trabalho. A produtividade aumentou e isso ajudou a acabar com o déficit em transações correntes que estava em 10% do PIB. A Grécia é muito dependente de ajuda do BCE, principalmente os bancos gregos, que estão sofrendo saques de correntistas e correndo risco de terem crise de solvência - afirmou Senna.
Segundo Senna, há três cenários para o impasse:
- Um é ter o perdão da dívida. Outro é empurrar com a barriga até chegar numa solução limite. O terceiro é deixar os gregos à própria sorte. Neste caso, haveria calote técnico. Se o caso grego não é para se perdoar, então é impossível encontrar outro exemplo.
Mesmo sem risco de contágio, a Grécia é um dilema para a Europa. Depois de seis anos de austeridade, os indicadores econômicos melhoraram, mas os sociais, não. Melhor é negociar com Syriza do que ver crescer a força da extrema-direita.
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