• Policiais pularam o muro da casa do tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, para levá-lo a depor em SP
Aguirre Talento, Gabriel Mascarenhas, Rubens Valente, Mario Cesar Carvalho e Estelita Hass Carazzai – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA, SÃO PAULO, CURITIBA - O ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco disse em depoimento prestado após fazer acordo de delação premiada na Operação Lava Jato que o PT recebeu de propina entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões, no período de 2003 a 2013, paga por empresas que detinham os 89 maiores contratos da Petrobras. Os valores correspondem hoje a R$ 411 milhões e R$ 548 milhões.
Segundo ele, o tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, teve "participação" direta no recebimento do suborno.
Nesta quinta (5), Vaccari foi levado à sede da Polícia Federal em SP para prestar depoimento sobre "doações legais e ilegais" ao PT, segundo o delegado Igor de Paula. Os agentes encarregados de conduzir Vaccari Neto à PF tiveram que pular o muro da casa do tesoureiro porque ele resistira a abrir a porta.
A ação da PF fez parte da nona fase da Lava Jato, batizada de My Way. A música cantada por Frank Sinatra, segundo Barusco, lembrava-lhe Renato Duque, ex-diretor de Serviços da estatal, indicado ao cargo pelo PT.
O tesoureiro e a direção da legenda negam que tenham recebido doações ilegais.
De 2003 a 2010, Barusco foi gerente da diretoria de Duque. Segundo ele, Duque recebeu US$ 40 milhões em contas no exterior e de R$ 10 milhões a R$ 12 milhões no Brasil, o que o ex-diretor nega. Duque foi preso em novembro e solto pelo Supremo.
Barusco fechou um acordo de delação em novembro, no qual aceitou devolver US$ 97 milhões que recebera de suborno. Nos depoimentos, ele contou que, na diretoria de Serviços, a propina foi paga até fevereiro de 2014. O trecho do depoimento tornado público nesta quinta (5) foi prestado em 20 de novembro.
"O pagamento de propinas dentro da Petrobras era algo endêmico e institucionalizado", disse o ex-gerente.
Barusco detalhou a suposta participação de Vaccari em um acerto fechado entre funcionários da Petrobras e estaleiros nacionais e internacionais relativos a 21 contratos para construção de navios, no valor de US$ 22 bilhões.
"Essa combinação envolveu o tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, João Vaccari Neto, o declarante [Barusco] e os agentes de cada um dos estaleiros", contou Barusco. A propina no caso dos navios foi de 1%, mas em outras diretorias chegava a 2%, segundo ele.
O ex-gerente também forneceu documentos que, diz ele, comprovam os pagamentos realizados pelos estaleiros em contas na Suíça.
Segundo o delator, o 1% sobre o valor dos contratos era dividido da seguinte forma: "2/3 [dois terços] para Vaccari; e 1/3 para 'Casa 1' e 'Casa 2'". A "Casa 1", para o ex-gerente, era o termo usado para o pagamento de propina para Duque e Roberto Gonçalves. Citado pela primeira vez, Gonçalves substituiu Barusco no cargo de gerente.
A "Casa 2" referia-se "ao pagamento de propinas no âmbito da Sete Brasil". Barusco citou João Carlos de Medeiros Ferraz, presidente da empresa, e Eduardo Musa, diretor de participações.
Barusco aposentou-se da Petrobras em 2010 e foi diretor da Sete Brasil de 2011 a 2013. A Sete Brasil foi criada para atuar no mercado de sondas do pré-sal e tem como sócios fundos de pensão como o Previ e os bancos BTG Pactual e Bradesco.
O ex-gerente entregou aos procuradores planilha em que detalha a divisão de propina num total de 89 contratos.
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