- O Globo
O aniversário de 450 anos da cidade do Rio de Janeiro, que se comemora amanhã, é uma data que estimula a refletir sobre as possibilidades e os desafios futuros da capital do Estado, e ensejo para que se interrompa o acompanhamento da política nacional para tratarmos de questões que, embora nacionais, parecem agravadas no dia a dia da cidade que tenta voltar a fazer jus ao epíteto de Maravilhosa.
Os problemas de mobilidade urbana; a poluição crítica na Baía de Guanabara; o declínio da população economicamente ativa - a população do Rio de Janeiro está envelhecendo mais do que a média nacional (em 2030, 22% terão mais de 60 anos, contra os atuais 15%); a baixa produtividade do setor de serviços e a grave falta de integração da cidade com a região metropolitana são exemplares dessas dificuldades locais.
Para culminar, um cenário macroeconômico nacional desalentador, os escândalos de corrupção na Petrobras, crise hídrica e energética impactando diretamente no Estado e município. Um grupo de pensadores, procurando contribuir com a reflexão em torno do percurso municipal para depois das Olimpíadas, lançou um olhar para o horizonte de longo prazo. Trata-se do livro “Depois dos Jogos - Pensando o Rio para o pós 2016”, editado pela Campus/Elsevier, com a organização e coordenação do economista Fabio Giambiagi.
São 16 artigos escritos por 25 autores- cariocas e admiradores da cidade - entre eles o atual ministro da Fazenda Joaquim Levy, o coordenador do Observatório de Estudos sobre o Rio de Janeiro, Mauro Osório, a ex secretária de Educação do Rio, Claudia Costin, o secretário executivo da prefeitura do Rio, Pedro Paulo Carvalho, e o arquiteto Sérgio Magalhães, apenas para citar alguns nomes do time reunido na obra.
Profissionais com formação e atuação em campos distintos, eles tratam da situação atual do Rio de Janeiro numa perspectiva transformadora, que procure deixar para trás alguns problemas muito enraizados na cultura local e aponte para um futuro bem diferente. “A Olimpíada é a chance de catalisar transformações no entorno urbano e na vida de seus habitantes, mas pode também levar a opções políticas que esbarraram em desperdícios púbicos, planejamentos equivocados e execuções pífias, problemas dos quais os jogos de Atenas, de 2004 se mostraram os exemplos mais claros”, diz Giambiagi.
Por outro lado, a Macroplan, consultoria especializada em planejamento estratégico e cenários futuros, também se debruçou sobre os principais desafios e oportunidades do Rio de Janeiro nos próximos dez anos. Os estudos da consultoria apontam que a cidade não conseguirá se desenvolver se não resolver seus problemas metropolitanos.
A região metropolitana faz rodar o motor da economia estadual: concentra cerca de dois terços do PIB fluminense e das empresas, e três quartos da população e dos empregos formais do estado. Mas a participação da região metropolitana na economia fluminense está diminuindo.
Em 2002, respondia por 78,4% do PIB do Rio de Janeiro. Em 2012 essa fatia caiu para 67,6. Resultado, em boa medida, do avanço da indústria do Petróleo na região Norte e do maior adensamento industrial na região Sul Fluminense, especialmente com a indústria automobilística.
Assim como a região metropolitana, a capital também tem perdido participação. O Rio respondia por 53,1% do PIB estadual em 2002, contra 43,8%, em 2012. Essa perda esteve associada principalmente à queda da indústria. Entre 2002 e 2012 a participação da cidade no resultado final da atividade produtiva industrial do Estado passou de 32,7% para 16,7%.
A queda da cidade no resultado da indústria da região metropolitana foi de 62% para 46%. Em muitos campos há um abismo de décadas entre o desempenho da capital e das demais cidades da Região metropolitana. A população adulta dos municípios da região metropolitana, à exceção da capital, possui uma escolaridade média de 8,4 anos de estudo em 2013, equivalente ao índice da capital em 2001.
O acesso adequado a esgoto nesses municípios em 2013 ainda não havia atingido o patamar da cidade do Rio de Janeiro em 2001. Enquanto as distâncias entre a capital e a periferia forem tão grandes não há política pública capaz de equacionar de modo sustentado boa parte dos problemas que nos afligem. A poluição da Baia talvez seja o mais simbólico dos problemas metropolitanos que não conseguimos resolver. (Amanhã, as soluções)
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