- O Estado de S. Paulo
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, nunca foi conhecido como aquele que sempre se limita a fazer declarações politicamente corretas. Mas não vem dizendo nada de errado.
Quando, no dia 27 de fevereiro, afirmou que a política de desonerações do governo anterior “foi grosseira” e ouviu a presidente Dilma dizer que “fora infeliz”, Levy também não afirmara nada de errado.
Em preleção fechada a professores e ex-alunos da Universidade de Chicago realizada dia 24, disse, lá pelas tantas, que a presidente Dilma Rousseff demonstra um “desejo genuíno” de acertar, mas não o faz de uma maneira “mais fácil” e “efetiva”.
Como a declaração teve repercussões, em nota oficial o ministro argumentou no sábado que a frase foi tirada do seu contexto. E a presidente Dilma encarregou o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, de avisar que não gostara do que disse o ministro Levy. Mas, nesta segunda-feira, a própria presidente se encarregou de esclarecer: “Tenho clareza de que Levy foi mal interpretado”.
Enfim, uma operação deixa-disso acabou prevalecendo. Mas nem isso dá sumiço ao essencial. A maneira desastrada com que a presidente Dilma conduziu a política econômica ao longo do primeiro mandato e a falta de objetividade demonstrada nestes primeiros meses de 2015 dão ampla razão aos que criticam a inépcia do governo, diante da qual a declaração de Levy parece irrelevante.
Por motivos diferentes, não é também o que analistas do próprio PT, sindicalistas e dirigentes dos movimentos sociais, os mesmos que prometem manifestações neste 31 de março, vêm dizendo da presidente Dilma? Não se queixam todos os dias de que ela é bem-intencionada, mas que faz tudo errado? O próprio presidente Lula deixa transparecer que também está decepcionado com o desempenho de quem um dia ele apresentou ao País como “mãe do PAC”.
Logo depois das eleições, a presidente Dilma anunciou a nomeação de Levy e, ao mesmo tempo, manteve desidratado no governo o ministro Guido Mantega. De lá para cá, vem demonstrando um jogo errático. Adotou a política de ajuste sem uma autocrítica prévia de sua administração, não explicou a seus eleitores por que contrariou seu discurso de campanha ao assumir o caminho da ortodoxia e a todo momento transmite à opinião pública a impressão de que fez sua nova escolha a contragosto. Até agora, a presidente Dilma não pareceu convencida de que ao fim do processo de aperto de cintos a economia voltará a apresentar condições para o crescimento econômico e para a criação de empregos.
Nessas circunstâncias, permite que o ajuste seja a todo momento questionado no Congresso, dentro do próprio PT e nas forças políticas que a apoiam, como se houvesse outra opção de política econômica, fato que, por si só, tira força das correções adotadas.
É um equívoco afirmar que a presidente Dilma se tornou refém do ministro Levy. Mas as circunstâncias demonstram que a desautorização velada, mas sistemática, do miolo do governo de quem está encarregado de corrigir os fundamentos da economia é fator de ineficiência. É provável que seja exatamente disso que Levy está se queixando.
Com o tempo ele pode até aprender a não cutucar demais a onça com vara curta. Mais difícil é pretender que a presidente Dilma deixe de ser quem ela é.
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