- O Globo
As manifestações políticas que têm marcado os últimos dias, tanto as de organizações sociais que apoiam o governo quanto aquelas que puseram 2 milhões de pessoas nas ruas do país contra Dilma e o PT, estão sendo analisadas pelo Estado Maior do Exército sem que as motivações de cada uma sejam fatores especialmente perseguidos, mas apenas suas consequências na sociedade.
Quer dizer, as questões ideológicas por trás desses movimentos hoje importam menos aos militares do que as repercussões que possam causar na vida social. Sob a ótica da segurança nacional, não há nenhuma preocupação com as manifestações de qualquer tipo, desde que transcorram em ordem, respeitadas as normas constitucionais, como as mais recentes.
Essas manifestações, tanto de movimentos como o Vem para a Rua ou Brasil Livre, quanto dos sindicatos e organizações sociais como a CUT, UNE e MST, têm data marcada antecipadamente, o que permite que se organizem esquemas de segurança que têm dado certo, geralmente a cargo das polícias locais.
A infiltração de movimentos violentos como os black blocs em marchas políticas, como aconteceu em 2013, é uma preocupação, mas agora como fatores previsíveis e controláveis.
O que preocupa mesmo os militares são as ocupações, que no país por enquanto estão limitadas a movimentos contestatórios envolvendo questões urbanas como a falta de moradia, com o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) ou as marchas do próprio MST que tencionam paralisar estradas ou grandes avenidas nas cidades para chamar a atenção de suas reivindicações.
A mobilização recente dos caminhoneiros, contra a alta do diesel, entra nessa mesma categoria, em especial pela capacidade de provocar desabastecimento de produtos nos supermercados.
Os militares já não consideram as ideologias que cada movimento representa os pontos centrais a serem analisados, desde que restritas às regras democráticas, mas sim os distúrbios que suas manifestações possam causar na vida das cidades.
Por isso, temem muito mais ocupações permanentes, como aconteceram nos Estados Unidos ou na Europa, do que manifestações dinâmicas que têm hora de começar e de terminar.
Um pequeno exemplo desse tipo de ocupação ocorreu no Rio, quando grupos contrários ao então governador Sérgio Cabral resolveram acampar nas proximidades de sua casa, no bairro do Leblon. Os distúrbios que causaram ao trânsito e à vida daquela comunidade no entorno foram consideráveis, embora tenham perdido o fôlego sem maiores consequências.
Movimentos como Occupy Wall Street ou os Indignados na Espanha e na Grécia têm potencial de disrupção muito maior do que manifestações dinâmicas.
No limite, ocupações como as da Praça Tahrir no Egito, que a partir de janeiro de 2011 começaram a reunir milhares pessoas contra o presidente Hosni Mubarak até derrubá-lo, um mês depois, quando milhões de cidadãos estavam por lá, formam o cenário mais preocupante pela disrupção que podem provocar no tecido sociopolítico.
Com relação às manifestações marcadas para o dia 12 de abril, há uma movimentação detectada nas redes sociais que promete uma capilaridade muito maior do que as anteriores, com alguns polos do interior se movimentando para participar.
Está sendo constatado um "efeito inveja", com cidades disputando entre si qual terá a maior manifestação, e muitas que não participaram das passeatas de 15 de março não querendo ficar de fora da próxima.
Uma velha raposa de Brasília acha que se em vez de políticos fazerem a "política da crise" se dedicassem a tentar atacar os problemas que provocam a "crise política", a situação estaria bem melhor.
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