- Folha de S. Paulo
O povo foi às ruas. Do que deu para ouvir em meio à algazarra, o "fora, Dilma" parece ser o grito mais representativo da diversidade de grupos que se manifestaram. Compreendo os sentimentos que levaram a essa reação, mas receio que não faça muito sentido lógico tirar a presidente agora.
Eu próprio estaria apoiando o "impeachment" ou implorando pela renúncia da mandatária, caso ela tivesse insistido em trilhar a rota que nos levou ao desastre econômico. Entretanto, como já apontei aqui, Dilma tem uma virtude: ela vai até a beira do abismo, mas não salta. A presidente viu o estrago nas contas públicas e optou pelo ajuste fiscal, tendo recrutado um técnico competente para efetuá-lo. Agora é preciso dar tempo para as medidas recessivas realizarem sua mágica. Teremos pelo menos um par de anos difíceis.
Trocar Dilma por Michel Temer ou mesmo por alguma liderança oposicionista, no implausível caso de um duplo "impeachment" seguido de novo pleito, não vai mudar a realidade econômica adversa.
No plano político, a situação não é muito diferente. Como as dores do ajuste limam a popularidade de qualquer dirigente, o eventual substituto da mandatária estaria em pouco tempo colhendo índices tão ruins quanto os da petista. Vimos esse fenômeno acontecer repetidas vezes durante a crise europeia. E isso, paradoxalmente, forneceria ao PT uma oportunidade para ressurgir em 2018 posando como vítima de uma espécie de complô das elites e também como oposição às políticas recessivas.
Parece muito mais lógico e didático deixar que Dilma e seu partido fiquem eles mesmos com os ônus eleitorais resultantes das decisões que tomaram. Se a natureza do mundo não sofrer modificações significativas, dentro de 10 ou 20 anos haverá outra crise econômica que apeará do poder o grupo político que lá estiver. Aí o PT terá sua chance de retornar --esperemos que mais sábio.
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