• Dimensão dos protestos, que reuniram não apenas gente mais rica e grupos de direita, surpreendeu o governo
- Folha de S. Paulo
Se a narrativa da crise do segundo mandato de Dilma Rousseff carecia do elemento "rua", a lacuna foi preenchida neste domingo (15).
Governo e oposição terão de quebrar a cabeça para dar agora resposta mais efetiva ao fenômeno.
A dimensão dos protestos superou as expectativas do Planalto, e sua natureza enseja um problema de outra espécie para a presidente.
Os atos do 15 de março tiveram características bem diversas daqueles de junho de 2013 --que explodiram após uma demanda objetiva, sobre passagem de ônibus, virar uma pauta difusa "contra tudo e todos". Acabaram esvaziados pela espiral de violência de suas franjas radicalizadas, como os black blocs.
Já o que parece ter começado com o panelaço do domingo retrasado (8) tem foco: o governo Dilma.
A oposição formal não é necessariamente favorecida pela situação. Talvez por medo de atrair fogo para si, e calculando que o governo é quem mais tem a perder agora, seus líderes deram um apoio distante aos atos.
Se quiserem surfar uma eventual onda, os opositores terão de achar um discurso.
A falta de elementos desestabilizadores viabiliza uma agenda de protestos. As pessoas foram às ruas sem medo e, salvo relatos em contrário, não são militantes pagos ou arregimentados por entidades governistas como ocorreu nos atos da sexta (13).
O que se viu neste domingo foi diverso do estereótipo pintado pelos governistas nas redes sociais --de que os manifestantes são simpatizantes da intervenção militar e/ou ricos insatisfeitos com o que chamam de "conquistas dos pobres" sob o PT.
Havia gente mais rica e ocupante do espectro político à direita do centro, mas não só. E a caricatura, como manifestantes pedindo a volta da ditadura, era minoritária. Eles serviram bem ao propósito de ilustrar posts de Facebook de petistas, mas só.
O Planalto já esperava uma concentração maior em São Paulo. Mas ministros falavam em talvez 100 mil pessoas como algo estrondoso; foram mais, e números expressivos notados Brasil afora.
Sobra agora para o governo buscar alguma estratégia além da que foi anunciada pelos abatidos ministros ao fim da jornada de domingo, que requenta o discurso de 2013 e 2014 com antigas defesas de reforma política e pacotes contra a corrupção.
Também não parece muito funcional a linha adotada por Miguel Rossetto (Secretaria-Geral), de dar mais ênfase para o ato chapa-branca de sexta e de ver fantasmas golpistas nas ruas do dia 15.
O espaço de manobra, contudo, é limitado. Não há dinheiro para bondades, como o aumento do mínimo usado por Lula na crise do mensalão, e o cenário político sugere mais instabilidade.
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