terça-feira, 17 de março de 2015

Tesoureiro do PT denunciado por corrupção e quadrilha

• Para Moro, "é assustador" que propina tenha continuado após início da Lava-Jato

Renato Onofre* - O Globo

Escândalos na Petrobras

CURITIBA - Na 10ª etapa da Operação Lava-Jato, o Ministério Público Federal denunciou ontem o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, ambos acusados de participar do esquema de corrupção na Petrobras. Duque foi preso pela Polícia Federal no apartamento onde mora, na Barra da Tijuca. É a segunda vez que Duque é preso pelos desdobramentos da Lava-Jato.

A prisão do ex-diretor de Serviços da Petrobras e a denúncia contra Vaccari acenderam sinal vermelho no PT. Desde o início das investigações, deflagradas há um ano, os dois são apontados pelos investigadores como os operadores do partido no esquema que desviou cerca de R$ 4 bilhões dos cofres da estatal, segundo a última estimativa do MPF.

Em delação premiada, cujo conteúdo foi divulgado ontem, o vice-presidente da Camargo Corrêa, Eduardo Leite, informou que Vaccari pediu mais R$ 10 milhões em doações eleitorais para o PT "porque a Camargo Corrêa estava atrasada em pagamento de propina para a Diretoria de Serviços".

Duque chegou a ser preso em novembro, mas, por falta de provas, foi solto 20 dias depois por uma decisão do ministro Teori Zavascki. Os investigadores descobriram agora que o executivo tentou ocultar patrimônio não declarado mantido na Suíça. A PF afirma que, mesmo após deflagrada a Lava-Jato, Duque transferiu 20 milhões de euros da Suíça para Mônaco, Estados Unidos, Bahamas, Portugal e Hong Kong.

"Que país é este?"
Além de Vaccari e Duque, outras quatro pessoas foram detidas na Operação "Que país é este?", como foi batizada a nova fase da Lava-Jato em alusão à frase dita por Duque ao ser preso em novembro do ano passado. Ao todo, o MPF ofereceu denúncia contra mais 21 pessoas, pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. No total, de acordo com os investigadores, R$ 298 milhões foram desviados dos cofres da estatal e, desses, R$ 136 milhões foram usados para o pagamento de propina a agentes públicos, políticos e partidos.

- Houve 24 doações eleitorais feitas ao longo de 18 meses por empresas vinculadas ao grupo Setal para pagamento de propina ao Partido dos Trabalhadores. Essas doações eleitorais foram feitas a pedido de Renato Duque e eram descontadas da propina devida à Diretoria de Serviços - disse o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da Operação Lava-Jato.

Dallagnol afirmou ainda que Vaccari indicava as contas e os diretórios do PT aos quais deveriam ser feitos os repasses. Em depoimento à Justiça, Pedro Barusco já havia declarado que, juntos, ele e Duque reuniram entre R$ 150 milhões e R$ 200 milhões em propina para o partido.

"(Vaccari) Não apenas o conhecia (o esquema), mas o comandava, direta ou indiretamente, em conjunto com terceiros, tendo pleno domínio dos fatos", diz a denúncia do MPF.

Juiz: propina continuou após março de 2014
Além da prisão de Duque, o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, que fez acordo de delação premiada, cumpre prisão domiciliar,, enquanto Nestor Cerveró, da área internacional, está preso na superintendência da PF em Curitiba. Os três foram dirigentes da estatal quando Dilma Rousseff era presidente do Conselho de Administração.

Ao decretar a prisão de Duque, o juiz Sérgio Moro classificou de "assustador" o fato de ele continuar a receber propinas mesmo depois de deflagrada a Lava-Jato, em março de 2014. Segundo o juiz, o empresário Shinko Nakandakari, outro operador do esquema, disse que intermediou propinas da empreiteira Galvão Engenharia a Duque e Barusco. "O mais assustador é que Shinko confessou o pagamento de propinas ainda no segundo semestre de 2014, quando a Operação Lava-Jato já havia ganho notoriedade na imprensa", disse Moro.

Também foi preso ontem o empresário paulista de origem libanesa Adir Assad, ligado à construtora Delta e investigado na CPI do Cachoeira. Os investigadores descobriram que cinco empresas de Assad foram usadas para lavar dinheiro de empresas do doleiro Alberto Youssef. Pelas contas das empresas, passaram R$ 65 milhões entre 2009 e 2011. Também foram presos ontem Lucélio Goes, filho do operador Mário Goes, além de Dario Teixeira e Sonia Branco, laranjas de Assad.

O esquema na Diretoria de Serviços denunciado pelo MPF mostra que o grupo atuou de forma conjunta em quatro obras da Petrobras e de suas subsidiárias: as refinarias de Araucária (Repar) e Paulínea (Repan), e nos gasodutos Urucu-Coari e Pilo-Ipojuca.

As defesas de Duque e Vaccari negaram envolvimento de seus clientes. O advogado de Duque, Alexandre Lopes, disse que o executivo não tem contas no exterior. Luiz Borges D"Urso, advogado de Vaccari, disse que ele não recebeu propinas das construtoras. (* Enviado especial)

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