• Em reunião com empresários paulistas, presidente da Câmara faz duras críticas ao governo Dilma
Julianna Granjeia – O Globo
SÃO PAULO - O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse nesta segunda-feira em São Paulo que “a corrupção não está no Legislativo, está no Executivo”. Ele se reuniu na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) com um grupo de cerca de 160 empresários, para quem reservadamente, durante o encontro, ainda disse que o “PT não tem opositores, tem inimigos; o PT não tem amigos, tem súditos”.
Ao comentar os protestos de ontem, Cunha afirmou que o Poder Executivo é responsável por permitir que a corrupção tenha avançado.
— Quando falam que as ruas estão contra o Parlamento, quero dizer que nós somos representantes do povo e vamos fazer (reformas), tomamos posse agora apenas há 40 dias e temos que andar em consonância com eles. É bom deixar claro que a corrupção não está no Poder Legislativo, a corrupção está no Executivo. Se eventualmente alguém no Poder Legislativo se aproveitou da situação para dar suporte politico em troca de benefícios indevidos é porque esses benefícios existiram pela falta de governança do Poder Executivo, que permitiu que a corrupção avançasse — disse Cunha.
O presidente da Câmara é um dos 34 parlamentares que integra a lista de políticos que respondem a inquérito Supremo Tribunal Federal (STF) pela Operação Lava-Jato.
Ele também criticou as declarações dadas ontem pelos ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência) após os protestos. Em resposta aos protestos, os ministros prometeram lançar um pacote com medidas para combater desvios de dinheiro público e voltaram a defender a reforma política.
— Achei a participação dos ministros um desastre, cada um falando uma coisa. Quem fala em diálogo e sectariza quem está nas ruas não quer ouvir. Eu não vi ontem nas ruas aquilo que os ministros manifestaram na entrevista. Não vi ninguém pedir reforma política, vi pedir mudança de governo. Eu fui eleito no dia primeiro de fevereiro. A minha primeira sessão, no dia três, eu avoquei a reforma politica que estranhamente os ministros do Partido dos Trabalhadores vieram reclamar, mas o PT obstruiu na Comissão de Constituição e Justiça por um ano a admissibilidade da PEC. Eu tive que fazer a admissibilidade em plenário.
A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 353/13, elaborada pelo Grupo de Trabalho de Reforma Política, coordenado pelo ex-deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), prevê o voto facultativo, o fim da reeleição para presidente, governador e prefeitos e a coincidência das datas das eleições a cada quatro anos.O texto, porém, não altera o financiamento privado de campanha e, por isso o PT se posicionou contra a análise do projeto pelo plenário e tentou obstruir. O partido é a favor do financiamento exclusivamente público de campanha e prefere esperar que o Supremo Tribunal Federal (STF) se posicione antes sobre o tema.
— Há dois anos eu escuto que vão mandar um pacote anticorrupção, que mande qualquer que seja esse pacote. Nós votamos em 2013 a lei anticorrupção das empresas e um ano e meio depois o governo ainda não a regulamentou. A Câmara está fazendo a parte dela. Se eles quisessem cooperar, não tinham obstruindo por um ano esse debate — disse o presidente da Casa.
Apesar de fazer diversas críticas duras ao governo, ele condenou os pedidos de impeachment. Para Cunha, a ação “beira o ilegal e o inconstitucional”.
— Efetivamente, da nossa parte, não tem guarida para poder dar seguimento até porque entendemos que esta não é a solução. Entendemos que temos um governo que foi legitimamente eleito e que, se aqueles que votaram neste governo se arrependeram de terem votado, isso faz parte do processo político. E não é dessa forma que vai resolver. Temos que debater, sim, o que aconteceu nas ruas ontem, temos que buscar formas que ajudem o governo a se encontrar com aquilo que a sociedade deseja ver. Mas não a partir de situações que cheiram e beiram o ilegal e o inconstitucional — afirmou Cunha aos jornalistas, após a reunião.
Questionado sobre a frase que ele disse durante a reunião para os empresários, Cunha disse que se referiu à campanha eleitoral. Ele já havia dito em discurso no plenário em fevereiro que o "PT não tem adversários, tem inimigos".
— Eu repeti uma frase de campanha eleitoral minha, fiz questão de dizer que não fiz essa frase hoje. O contexto que disse foi em cima de um comentário do (ex) ministro Jobim, acerca do pouco diálogo e das dificuldades de atrito (entre integrantes do governo). Durante a minha campanha eleitoral, usei uma frase para exemplificar a campanha, o que eu estava sofrendo. Eles (petistas) não têm aliados, eles gostam de ter subservientes. Eles também não tem adversários, eles têm inimigos, que foi o que fizeram comigo durante a campanha eleitoral. Eu repeti a frase daquele contexto, não falei sobre hoje — explicou Cunha.
Nelson Jobim foi ministro da Defesa na primeira gestão da presidente Dilma Rousseff. Durante seu mandato, fez diversas críticas públicas ao governo. Cunha alertou os jornalistas, após responder o questionamento sobre a crítica, para não usarem a frase dita no encontro reservado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário