• Em entrevista, presidente da Câmara afirma que seu partido não aceita 'presidencialismo de cooptação', mas ataca ideia de impeachment de Dilma Rousseff: 'Brasil não virou uma republiqueta'
Ana Fernandes - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse que, se fosse hoje a convenção do PMDB para manter o apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), ela provavelmente desfaria a parceria originada no segundo mandato do ex-presidente Lula. Convidado do programa Roda Viva, da TV Cultura, na noite dessa segunda-feira, 16, ele foi questionado se hoje o partido votaria pela manutenção da aliança. "Acho que não, não pela presidenta, mas pelo PMDB; a política tem circunstâncias", respondeu. Segundo Cunha, é evidente que houve um enfrentamento entre os dois partidos e que isso deixou sequelas. Na entrevista, o presidente da Câmara reafirmou seu posicionamento contrário ao impeachment de Dilma.
Para Cunha, seu partido, antes maior aliado do PT e hoje em atrito com o governo, não aceita o "presidencialismo de cooptação", que ele alega ter sido imposto pelo governo Dilma. O presidente da Câmara disse que o PMDB não quer "carguinhos", mas quer ser partícipe do governo."Governar não é só dando cargo, é compartilhando soluções a serem adotadas", afirmou. Cunha afirmou que todos sabem da necessidade do ajuste fiscal, bastando ter algum entendimento da economia, mas reclamou que, nos últimos anos, a presidente não chamou o PMDB à mesa de decisões e que, agora, tenta impor o ônus dos erros de seu governo ao PMDB, quando transfere ao Congresso a responsabilidade de aprovar as medidas.
Cunha disse considerar um absurdo a quantidade de ministérios - 39 - e afirmou já ter sugerido a redução para 20. Ainda com relação a cargos, declarou que será um erro da Presidência se achar que vai reconquistar o PMDB simplesmente dando posições em ministérios ou no segundo escalão. "Não é pelo fato de ter mais cargos que vai fazer estar mais ou menos presente governo. O PMDB quer ter opinião, voz e influenciar. Queremos ser partícipes, não queremos mais cargos."
O peemedebista também reclamou da articulação do Planalto de apoiar a movimentação de Gilberto Kassab (PSD), de criar o PL no intuito de atrair parlamentares de outros partidos (inclusive do PMDB) e depois fundir o PL ao PSD, inflando sua representação no Congresso. "Não dá pra defender reforma política e estimular a coleta de assinaturas comprada, arranjada por agentes políticos com subterfúgios. O objetivo ali não é criar partido, com ideologia, mas a busca pelo poder, na cooptação de parlamentares para enfraquecer aliados."
Para Cunha, o governo petista partiu para essa estratégia porque perdeu força política, passou de uma "hegemonia eleitoral" dos três primeiros mandatos petistas para uma "vitória eleitoral" apertada. O peemedebista acredita que se somaram fatores negativos para o governo de Dilma, da comunicação falha do ajuste fiscal à população às denúncias de corrupção na Petrobras. "É uma combustão", afirmou, e depois repetiu a crítica de que os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência) demonstraram incompreensão das manifestações de rua deste domingo, 15.
Ainda assim, Cunha admitiu ter visto hoje um governo mais humilde na postura da presidente - Dilma admitiu na tarde desta segunda-feira que pode ter errado na dosagem da política econômica anticíclica do primeiro mandato.
"Republiqueta". O deputado voltou a se manifestar contrariamente aos pedidos de impeachment de Dilma. "Não posso achar que o Brasil virou uma 'republiqueta' e que podemos tirar o presidente democraticamente eleito. O Brasil não pode fazer como o Paraguai, que tirou o Lugo do dia pra noite porque ele perdeu apoio, vai ser um impeachment atrás do outro se isso acontecer."
O presidente da Câmara disse ainda ser a favor do parlamentarismo como sistema de governo, mas que falar nisso agora soaria golpista, então que preferiria plantar uma semente deste debate para o futuro.
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