• Como se não bastassem os problemas da economia e o esgarçamento das relações com o Congresso, Dilma não consegue se descolar do escândalo da Petrobras e do desgaste de seu partido
- Correio Braziliense
O labirinto de Creta era um jardim de sebes plantadas deliberadamente para confundir quem nele entrasse, dificultando a saída. Na mitologia grega, teria sido construído por Dédalo, um famoso arquiteto, para alojar o Minotauro — metade homem, metade touro —, a quem eram oferecidos jovens, que morriam devorados. O herói ateniense Teseu conseguiu derrotá-lo e sair do labirinto graças ao novelo que lhe foi dado por Ariadne, princesa de Creta, cujo fio foi desenrolando ao longo do percurso.
Um dia após os protestos contra o governo em várias cidades do país, a presidente Dilma Rousseff parece perdida no grande labirinto que ela mesmo mandou construir, mas do qual não consegue sair. Falta-lhe um fio de Ariadne para escapar do monstro que alimentou durante todo o primeiro mandato e agora ameaça devorá-la. Também não há nenhum herói disposto a salvá-la: nem mesmo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Dilma deu entrevista ontem tentando minimizar a crise que o país atravessa e a falta de iniciativa política do governo. “Quando eu vi centenas e milhares de cidadãos se manifestando, não pude deixar de pensar que valeu a pena lutar pela liberdade, valeu a pena lutar pela democracia. Este país está mais forte do que nunca”, declarou.
A presidente da República procurou desfazer a imagem de um governo acuado pela sociedade e isolado politicamente: “Um país amparado na separação, na independência e na harmonia dos Poderes, na democracia representativa, na livre manifestação popular nas ruas e nas urnas se torna cada vez mais impermeável ao preconceito, à intolerância, à violência, ao golpismo e ao retrocesso”.
Durante a entrevista, porém, tratou as manifestações de domingo como se tivessem a mesma dimensão da mobilização chapa-branca promovida pelas centrais sindicais na sexta-feira. Dilma disse que vai dialogar com os manifestantes e que pretende enviar ao Congresso propostas para combater a corrupção.
Soaram falsas, porém, as declarações de humildade. Dilma manteve a retórica oficial, que atribui intenções golpistas à oposição: “Eu tenho certeza de que o que nós queremos é um lugar em que todos possam exercer seus direitos pacificamente, sem ameaça às liberdades civis e políticas”.
Desgaste profundo
Nos bastidores do Planalto, o clima é de insegurança e perplexidade. Pesquisas não oficiais apontam para a queda acelerada dos índices de aprovação do governo e o aumento da rejeição a Dilma, estimativas que deverão ser confirmadas pelo Datafolha e pelo Ibope até o fim da semana. O governo estaria na situação de um paciente terminal na UTI. Poderá sobreviver por longo período, em estado vegetativo, mas somente com a ajuda de aparelhos.
Como se não bastassem os problemas da economia e o esgarçamento das relações com o Congresso, Dilma não consegue se descolar do escândalo da Petrobras e do desgaste de seu partido. Ontem, o PT foi acusado pelo Ministério Público Federal de receber propina do esquema de lavagem de dinheiro investigado pela Operação Lava-Jato.
O ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, notoriamente ligado à legenda, foi preso novamente, depois de a investigação comprovar que havia transferido 20 milhões de euros de contas secretas da Suíça para o Principado de Mônaco. Na cúpula petista, há o temor de que acabe fazendo um acordo de delação premiada, por pressão dos familiares.
Na semana passada, em depoimento na CPI da Petrobras, o ex-gerente da estatal Pedro Barusco acusou diretamente Duque e o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, de participação ativa no esquema de corrupção da Petrobras. Vaccari está solto, mas foi denunciado pelo MPF com Duque.
Dilma não pode ser investigada por fato ocorrido antes do exercício do atual mandato. Supostamente, a campanha de 2010 teria recebido doações das empresas envolvidas no esquema de corrupção na Petrobras. A acusação foi denúncia feita por Barusco.
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