• Dilma muda o tom, mas não reconhece erros cruciais de seu 1º mandato; contribui, assim, para prolongar o impasse e a crise do governo
O destaque dado à pregação do ministro Joaquim Levy (Fazenda) a respeito da necessidade e da urgência de diminuir o excesso de gastos do governo deixa em segundo plano a reafirmação de projetos não menos importantes de reparos na economia.
Entende-se a ênfase no aspecto crítico do ajuste nas contas públicas. Trata-se de precondição para outras reformas e motivo de controvérsia social e política. Descurar do programa mais amplo de Levy, porém, implica menosprezar temas cruciais para a retomada do crescimento --mesmo que modesto-- e para o próprio destino do ajuste, que demandará anos de esforços.
Em evento em São Paulo, o ministro enfatizou que, no que depender dele, haverá um corte brutal de despesas. Até agora, deu consequência a suas palavras. Em janeiro, os gastos federais caíram quase 5% em relação ao mesmo mês de 2014; nos últimos dois anos, haviam crescido mais de 5%. O arrocho no investimento foi de 35%.
Tal compressão evidencia o tamanho das dificuldades atuais e dos riscos futuros. Quanto maior a redução de investimentos, pior a qualidade do ajuste; quanto menor o apoio parlamentar ao ajuste, maior o corte de investimentos.
O reequilíbrio das despesas públicas, contudo, depende também da arrecadação federal, que tende a cair em cenários de recessão --e esta parece se agravar. A incerteza política e a falta de perspectivas de reformas maiores comprometem ainda mais a atividade econômica.
Além do ajuste, Levy tem proposto um programa de desmonte das políticas adotadas pelo governo desde 2009, de modo a diminuir o peso e o ativismo estatais.
Nesta segunda-feira (16), o ministro criticou a concentração de recursos nas mãos do Estado, em vez de deixar ao mercado parte maior na definição de investimentos. Reprovou implicitamente o programa falho de concessões à iniciativa privada --regulado de modo inepto pelo governo-- e as políticas de socorros setoriais. Voltou a sugerir política de comércio exterior "mais ousada".
Descreveu, em suma, um programa de reformas ditas liberais.
Uma iniciativa dessa natureza contribuiria para uma recuperação mais veloz do PIB. Ofereceria uma perspectiva de futuro aos agentes econômicos; talvez amainasse o clima de exacerbação política.
Mas o presente é de pessimismo. O necessário ajuste vê-se ameaçado pela animosidade do Congresso e pela inquietude das ruas.
Em suas primeiras declarações depois dos protestos de domingo (15), a presidente Dilma Rousseff (PT) pediu união em torno do plano de superação da crise econômica.
Mais uma vez, entretanto, apesar de titubear por instantes, Dilma não reconheceu erros essenciais de seu primeiro mandato, com o que demonstra falta de convicção para abraçar o programa de mudanças. Contribui, assim, para prolongar o impasse nacional e, com ele, a crise crônica de seu governo.
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