• Parlamentares rechaçam diálogo com o governo e dizem que, se o movimento nas ruas continuar crescendo, eles vão subir no palanque
Pedro Venceslau e Daniel Carvalho - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Embalada pelas manifestações contra a presidente Dilma Rousseff no domingo, a oposição rechaçou a tentativa do governo de abrir um diálogo para fazer com que as promessas de promover a reforma política, aprovar o pacote anticorrupção e realizar o ajuste fiscal saiam do papel.
Uma análise de conjuntura pós-manifestação produzida pelo Instituto Teotônio Vilela, ligado ao PSDB, afirma que a “pauta da cidadania” das ruas inclui a defesa “intransigente” dos direitos dos trabalhadores “impedindo que o arrocho proposto pela presidente avance no Congresso”. O texto diz, ainda, que não será cortando benefícios e aumentando impostos que o País sairá da crise.
O diálogo é rechaçado pelos principais líderes da oposição. “Não há clima para dialogar com o governo, especialmente do discurso da presidente em cadeia nacional. Eles estão no mundo da lua”, disse o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), candidato à vice-presidente na chapa de Aécio Neves em 2014.
“Seria ir na contramão das manifestações”, reforçou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
Para o presidente nacional do PPS, Roberto Freire, o governo não merece “a mínima confiança”.
“Esse discurso (de diálogo) é surrado. Se a presidente quer ajuda, ela precisa dar sinais, como a redução de ministérios e cargos comissionados”, diz.
Para o presidente nacional do DEM, senador José Agripino (RN), a proposta do governo foi motivada “pelo grito das multidões”. “Fazem isso para dizer que, de repente, viraram conciliadores. A reforma não depende de entendimento com a oposição. Ela vai acontecer naturalmente”, diz o senador.
“Vale a declaração chamando ao diálogo, ou a de guerra, atribuindo as manifestações aos eleitores de Aécio”, completa o deputado Mendonça Filho (PE), líder do DEM.
Dilema. Apesar da multidão que tomou as ruas no domingo, a oposição se dividiu sobre sua participação nos próximos atos. Enquanto parte dos dirigentes partidários e parlamentares defende uma aproximação “lenta e gradual” com os organizadores, outros advogam a tese de que não há necessidade de colocar os políticos em cima do palanque. Pelo contrário: isso poderia gerar antipatia dos manifestantes.
“Na manifestação (de domingo) os organizadores estavam receosos com a participação de políticos nos carros de som. Poderia parecer oportunismo. Mas acho que, se o movimento continuar com essa força, será inevitável a nossa presença”, diz o senador Álvaro Dias.
O próximo ato contra Dilma está marcado para o dia 12, em São Paulo. Mas não há consenso entre os grupos. O maior deles, o Vem pra Rua, resiste a aceitar a data, marcada pelos grupos Revoltados On Line e Movimento Brasil Livre. “Não queremos proximidade com partidos. O PSDB não é oposição, é ocasião”, diz Marcello Reis, líder do Revoltados On Line.
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