- Folha de S. Paulo
O momento é obviamente ruim, mas pode ficar muito pior. Se não bastasse a deterioração da economia, a roubalheira do petrolão, a crise política no Congresso, os problemas no abastecimento de água e o risco de apagão elétrico, o país sofre com a falta de bom senso do governo e da oposição.
Alguém precisa colocar um pouco de água na fervura, sob o risco de enfrentarmos cenas piores do que as de junho de 2013. A despeito de todo o romantismo que se criou em torno daquele período, é recomendável não nos esquecermos da massa descontrolada que tentou invadir prédios públicos, dos empreendimentos privados vandalizados e saqueados, das pessoas feridas etc.
Junho de 2013 ocorreu num contexto em que a economia crescia pouco (2,3%), mas crescia, e o país gerava empregos (730,7 mil vagas formais de trabalho naquele ano). O cenário atual é bem diferente, com o governo promovendo um ajuste duríssimo, expectativa de retração do PIB, aumento da inflação e do desemprego. O que pode acontecer agora se a panela de pressão for destampada novamente?
Em meio à crescente insatisfação, o PT tem reagido muito mal às críticas. Lula, que, como ex-presidente de um governo bem-sucedido, poderia contribuir para acalmar as coisas, tem feito exatamente o contrário. Recentemente, disse querer "paz e democracia", mas ameaçou colocar "o exército do Stédile na rua".
Diante do panelaço de domingo, dirigentes do PT também optaram pelo discurso raivoso, circunscrevendo-o à "burguesia golpista", como se as pesquisas não indicassem queda da popularidade de Dilma em todas as faixas de renda e regiões do país.
Ponderação também não tem sido o forte da oposição. FHC comparou a situação atual com a das vésperas do golpe de 1964. Aloysio Nunes, preocupado com a eleição de 2018, mas nem tanto com o país, declarou querer ver Dilma "sangrar lentamente".
Não se faz política com o fígado.
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