quinta-feira, 12 de março de 2015

Vinicius Torres Freire - Economistas à espera dos políticos

• Derrota parcial do governo no caso do IR vai ser a norma das negociações do ajuste fiscal?

- Folha de S. Paulo

A turma do dinheiro grosso e seus porta-vozes variados, as pequenas encarnações do mercado, assuntavam ontem se a negociação do reajuste da tabela do Imposto de Renda seria o padrão pelo qual tramitariam no Congresso as medidas de interesse econômico do governo, em particular do pacote de arrocho.

Se fosse o caso, poderia haver uma "crise em duas velocidades", no dizer de um economista e diretor de um bancão brasileiro. Isto é, segundo essa tese, a moagem política do governo prosseguiria, salvando-se, porém, o grosso do ajuste fiscal.

Os rapazes do mercado especulam até com essas magras notícias políticas, pois parecem de fato meio sem rumo no que diz respeito aos efeitos do tumulto sobre a política econômica. Mas a negociação, quase rendição, do IR é uma boa pista?

Ontem no governo se dizia que sim: dadas as circunstâncias, é melhor dar dois dedos com um anel do que perder mão e talvez braço. No entanto, o caso do IR era em certa medida mais fácil. Primeiro, porque se perdeu "pouco" dinheiro (a diferença entre a proposta original do governo e a "negociada" deve resultar em perda de R$ 1,4 bilhão). Segundo, os interesses prejudicados por isso que ainda foi uma alta de imposto são mais difusos. No caso das próximas batalhas, a coisa engrossa.

O governo pretende aprovar um corte de benefícios sociais (pensões, seguro-desemprego, abono salarial) e acabar com metade das isenções das contribuições patronais para o INSS. As duas medidas suscitaram protestos até da bancada petista, movimentos sindicais de rua e uma aliança de parte do empresariado com centrais. Somadas, essas pauladas podem chegar a R$ 30 bilhões.

Muita liderança empresarial graúda acha que é preciso engolir o tablete gigante amargo de remédio; outras, como se disse, estão em pé de guerra. A liderança peemedebista do Congresso por ora mede o calor social em pontos diversos do país, mas não parece a princípio disposta a tocar fogo em Dilma Rousseff começando pela economia. Não se sabe como negociará a preservação de seu pescoço, sob a faca do petrolão; espera para ver qual será o próximo passo do governo, instado por Lula a colocar o PMDB no centro da coordenação política. Espera para ver que calor virá das ruas, tomando a primeira temperatura no domingo.

Em suma, o cálculo das probabilidades ainda é uma pilhéria.

Novo pibinhão
Dado o clima nacional de histeria, exacerbação muita vez ignorante, convém ressaltar: é louca a conversa conspiratória de mutreta na revisão para cima dos dados do PIB, do tamanho e do crescimento da economia, que acaba de ser em parte divulgada pelo IBGE.

A revisão dessas medidas incrivelmente enroladas foi técnica, penosa e mantém as estatísticas da renda e da produção do Brasil no nível dos melhores padrões de contabilidade nacional, em qualquer lugar do mundo sempre uma linguiça feita de modo problemático --mas é o que temos, aqui e alhures.

De resto, os números revisados parecem mais condizentes com dados já disponíveis, como o do aumento dos rendimentos, captados em pesquisas como a Pnad. As informações a respeito da economia brasileira parecem agora menos discrepantes.

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