• Em nota, ex-ministro da Saúde contesta versão do doleiro
Vinicius Sassine – O Globo
BRASÍLIA - Quando era ministro da Saúde, o petista Alexandre Padilha participou de reunião com o doleiro Alberto Youssef para tratar da regularização do laboratório Labogen junto ao ministério, segundo afirmação do doleiro na delação premiada firmada com o Ministério Público.
No termo de colaboração número 57, Youssef relata que esteve com Padilha na casa do então deputado federal André Vargas (ex-PT-PR) em Brasília, com a presença de Cândido Vaccarezza (PT-SP), e de Pedro Argese, um dos representantes do Labogen - empreendimento de fachada cujo verdadeiro dono era o próprio doleiro, conforme as investigações da Operação Lava-Jato.
Em fevereiro de 2014, Padilha deixou o ministério para disputar o governo de São Paulo. Ficou em terceiro lugar. Há 40 dias, o ex-ministro assumiu o cargo de secretário de Relações Governamentais da Prefeitura de São Paulo, a convite do prefeito Fernando Haddad (PT).
O Labogen chegou a firmar uma parceria para desenvolvimento produtivo (PDP) com o ministério, com o propósito de fabricar um medicamento que combate hipertensão arterial pulmonar. A parceria previa repasse de R$ 31 milhões ao laboratório, mas foi anulada com a revelação do escândalo. Padilha sempre negou ter cometido irregularidade. O máximo que admitiu, na época, foi ter se encontrado com André Vargas para tratar do assunto e, a partir de um pedido do deputado, ter encaminhado "documento informal" sobre o laboratório para a área técnica do ministério.
Na delação, Youssef afirmou ter existido uma relação mais próxima: "Houve uma primeira reunião agendada na casa de André Vargas em Brasília onde estavam Cândido Vaccarezza, o declarante, André Vargas, Pedro Argese e o então ministro da Saúde Alexandre Padilha".
Youssef afirmou que não houve pedido nem pagamento de "qualquer comissão ou propina" a Vargas e a Padilha. Ao analisar a delação, o MPF considerou que, apesar das menções a autoridades com foro privilegiado, "não haveria qualquer irregularidade praticada por eles". O trecho da delação deveria ser enviado à primeira instância da Justiça Federal, no Paraná.
Por meio da assessoria, Padilha afirmou que "não tem registro de qualquer encontro ou evento na casa do então vice-presidente da Câmara dos Deputados, André Vargas, cujo objetivo específico tenha sido tratar do tema questionado". "O ex-ministro, por dever do cargo e quando convidado, participou de encontros e eventos com parlamentares", diz a nota. O ex-ministro também afirmou ter cumprido "missão institucional" ao receber propostas e projetos de parceiros, e reiterou que nenhum contrato chegou a ser assinado com o Labogen.
Vaccarezza disse nunca ter participado de reunião na casa de Vargas para tratar do assunto. Vargas, por sua vez, afirmou que não daria declaração por estar "fora da área pública". O primeiro é alvo de inquérito aberto no Supremo. O segundo, de inquérito da PF em Curitiba.
Em outro depoimento, o doleiro afirma que o PP recebeu propina de laboratórios devido a cargos ocupados no Ministério da Saúde, mas não se refere à gestão de Padilha. Ele cita o laboratório Pfizer e afirma que a propina, nesse caso, tinha relação com o medicamento Viagra. Diz lembrar especificamente do Pfizer pelo fato de o ex-deputado José Janene ter recebido amostras do medicamento e distribuído a amigos. Youssef diz que as propinas arrecadadas em laboratórios totalizariam R$1,5 milhão e que os recursos eram repassados por ele a Janene.
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