- Folha de S. Paulo
No supermercado, na fila para pagar as compras da Páscoa, um senhor observa uma bandeja com os dizeres "tipo bacalhau" ao lado de antiga edição de uma revista que trazia na capa o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). E comenta: "Cada um engole o peixe que merece".
Cunha é um "tipo aliado" que Dilma teve que engolir. Nem esperou a Páscoa passar para impor uma série de derrotas ao governo no Congresso, derrubar o ministro da Educação e definir a agenda do que deve ou não ser votado.
No Senado, o presidente, Renan Calheiros (PMDB-AL), que também sabe encarnar como poucos o "tipo aliado", faz o mesmo.
Investigados no esquema de corrupção da Petrobras, Cunha e Renan se aproveitaram dos erros do governo, da rejeição recorde de Dilma, da articulação política capenga, da recessão econômica e da insatisfação das ruas para ganhar espaço.
O governo faz um esforço para aprovar as medidas do ajuste fiscal, mas Renan e Cunha, cada um a seu modo, têm outros interesses em mente que tiram da cartola a depender das circunstâncias.
Que tal discutir a autonomia do Banco Central, a redução no número de ministérios, a maioridade penal, o Estatuto da Família e até a quebra dos sigilos telefônicos do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para saber o que (e se) andaram conversando sobre a Lava Jato.
E tudo acontece sob o olhar contemplativo do vice Michel Temer, que por sinal preside esse simulacro de partido aliado que é o PMDB. Temer sempre reclamou de ser preterido e não participar de discussões importantes. Pois o governo foi obrigado a chamá-lo mais do que depressa para o núcleo político. E Dilma, de cara feia, engoliu mais um "tipo". Para o bem e para o mal.
Resta a dúvida sobre qual tipo de governo surgirá depois da Páscoa
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