Partidos, sindicatos e organizações sociais. É com base nesse tripé e em políticas econômica e social populistas que o PT tem conseguido até agora se manter no poder. Enquanto uma conjuntura internacional favorável ajudou e o governo tinha gordura para queimar, foi tudo festa. Mas depois que o mundo mudou e Dilma não percebeu, mantendo escancarada a cornucópia do Estado-provedor, a nau lulopetista, que a essa altura já não fazia distinção entre governo e partido, começou a fazer água. Os indicadores econômicos e sociais despencaram, carregando junto a credibilidade e a popularidade da presidente. Eram os primeiros sintomas do esgotamento do modelo lulopetista. Hora da debandada dos partidos, sindicatos e organizações sociais.
Depois da pesquisa CNI/Ibope que na semana passada confirmou a tendência e revelou que 74% dos brasileiros não confiam na presidente da República, multiplicaram-se na mídia manifestações de líderes partidários, de dirigentes sindicais e de organizações sociais fazendo críticas e sinalizando a disposição de manter distância do Palácio do Planalto.
Na área política, a dissolução da "base aliada" é consequência menos da crise econômica do que da incompetência política de Dilma, que iniciou o segundo mandato imbuída da determinação de consolidar sua hegemonia pelo enfraquecimento da força política de seu mais importante aliado, o PMDB. Deu no que se vê. A tal base aliada continua, no papel, a mais ampla de que um governo jamais dispôs na história da República. Mas Dilma é refém dos presidentes peemedebistas do Senado Federal e da Câmara dos Deputados e sofre derrotas sucessivas no Congresso.
A base sindical é um dos esteios do PT desde sua origem. Concentra-se principalmente na maior central, a CUT, que leva seus filiados às ruas em manifestações "espontâneas" de apoio ao governo que a manipula. Mas até a CUT já não é mais a mesma. Além de ter sido incapaz de evitar a desfiliação de sindicatos importantes nos últimos meses - como o dos professores de Porto Alegre -, a central, que jamais disfarçou sua condição de braço sindical do PT, já registra o surgimento de um movimento oposicionista interno. São dirigentes jovens que percebem o risco que significa, em termos de fidelidade de seus filiados, manter-se incondicionalmente atrelada aos interesses do governo. De acordo com dados do Ministério do Trabalho, quando Dilma assumiu o governo, a CUT representava 38,2% do total de trabalhadores registrados. Hoje são 33,6%.
Para manter o apoio "das ruas", os dirigentes petistas sempre contaram com o apoio de toda sorte de organizações sociais, até porque muitas delas constituíram o núcleo fundador do partido. Mas hoje até as organizações sociais mais politicamente ativas, como o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), formulam críticas pesadas ao governo petista.
De modo geral, entre partidos, organizações sindicais e sociais que historicamente dão apoio ao PT, a crítica principal - até porque é de entendimento mais fácil pelo público em geral e envolve conteúdo de forte apelo social - é a de que as medidas de ajuste fiscal que estão sendo propostas para botar em ordem as contas públicas, devastadas pela gastança irresponsável, prejudicam apenas os interesses dos trabalhadores.
Em entrevista do jornal Valor, o líder do MTST, Guilherme Boulos, centra suas críticas exatamente nesse ponto: o caráter "antipopular" do ajuste fiscal proposto pelo governo. "Não se joga a conta da crise no colo dos trabalhadores, dos mais pobres." Mas Boulos não se arrisca, como em geral todos os críticos do ajuste fiscal, a indicar caminhos concretos para resolver o problema das contas governamentais. Prefere ser genérico: "Vai ser preciso fazer um novo projeto político. Não dá mais para haver avanço popular sem reformas estruturais". E explica que tanto Lula quanto Dilma sempre tentaram "conciliar" os interesses populares com os "da banca", o que agora não é mais possível: "A política de fazer conciliação se esgotou. (...) Achar que se governa sem comprar briga é uma ilusão. Dilma preferiu comprar briga com o povo". E ameaça: "Do jeito que as coisas estão, é difícil pensar em 2018. Tem que ver se esse governo termina 2015". Boulos parece sugerir que, se depender do "povo", não termina.
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