- O Globo
O mais amigável dos peemedebistas acha que a presidente Dilma não conversa com os aliados, e o PT não sabe dividir o poder. Assim, o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, explica a atual crise política do Governo Federal. Ele diz que se identifica com a presidente, mas afirmou que vem dizendo a ela, desde a eleição, que "política é a arte de conversar".
"Sempre disse a ela, mesmo antes da posse. A falta de conversa, de diálogo, prejudicou muito. Tudo o que está acontecendo é falta de conversa. A gente (ele e a presidente) se identifica muito por querer que as coisas aconteçam e não se importar às vezes com a política, mas é preciso diálogo", disse Pezão em entrevista na Globonews.
Pezão está enfrentando uma queda abrupta da receita por causa da crise da Petrobras e da queda do preço do petróleo. Admite que em 60% do seu tempo administra a crise. O Rio vive ainda o medo do retrocesso na política de segurança. Quatro pessoas foram assassinadas por policiais no Complexo do Alemão, entre eles, um menino de 10 anos, Eduardo de Jesus.
Sobre a crise fiscal, ele diz que o estado está fazendo o dever de casa, contingenciando todas as despesas, mas que perdeu R$ 13 bilhões com as diversas crises: a da queda dos royalties, a da Petrobras, e da redução do nível de atividade:
- Estou decidido a gastar o que arrecadar. Não vai ter cheque especial. No início, eu me assustei com o déficit, mas depois passei a cortar os gastos de custeio, as gratificações e salários. No primeiro trimestre, já cobrimos de 60% a 70% do déficit, e eu tenho os outros nove meses para correr atrás do resto.
Pezão negou que tenha feito cortes na educação, área na qual o Rio de Janeiro teve um grande avanço nos últimos anos. A avaliação de qualidade deu um salto. Saiu de um dos piores do país para o quarto lugar. Disse que está fazendo contingenciamento, mas nos próximos meses poderá soltar mais recursos.
Sobre a volta dos tiroteios e mortes de moradores nas favelas que se considerava "pacificadas", Pezão disse que a política de pacificação continua e que os números mostram os avanços:
- Existem 38 Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) e só temos problemas em oito. Temos nestas áreas uma taxa de homicídio de nove por 100 mil habitantes, o que é um índice baixo comparado a outras localidades. O Dona Marta está há cinco anos sem um óbito. Estamos tirando e reciclando os policiais. Mas são locais que foram abandonados pelo Estado por 30 anos, e estamos lá há cinco. O prefeito Eduardo Paes vai entrar com educação em tempo integral, que deixou de existir desde que os Cieps foram abandonados. A educação vai dar frutos, mas leva tempo. Infelizmente, ainda se vê crianças de 12 anos com revólver e fuzil na mão. Peço sempre para a presidenta Dilma mais investimentos. Quando tivemos investimentos do PAC nas comunidades, o crime caiu muito.
O governador disse que, além disso, o Rio é invadido por armas e drogas que chegam através de vias federais nas quais a polícia estadual não pode agir. Esta semana, ele foi pedir reforços ao Ministério da Justiça e tratou do assunto durante a visita de Dilma ao Rio, na quinta-feira.
Por depender desses investimentos federais, ou por temperamento, Pezão faz parte do PMDB que não cria problemas para o governo. Por isso, perguntei a ele se o partido dele era o mesmo partido dos presidentes da Câmara e do Senado.
- O PMDB é um só, com as características que ele tem nesta existência dele. Em cada estado, ele tem suas particularidades, mas é o PMDB da governabilidade desde a época do presidente Itamar. A eleição foi muito dura, muito dividida, e o PT não viu direito as pessoas. Ninguém consegue administrar sozinho o país, e o PT é difícil de compartilhar o poder. Felizmente, o vice-presidente, Michel Temer, está assumindo novas funções, ele estava muito mal utilizado. Um homem que foi secretário de Justiça, conhece o Parlamento, transita em todos os partidos precisava ter maior participação - disse o governador.
Perguntei se a presidente não está agora nas mãos do PMDB. Pezão respondeu que a presidente é uma pessoa de personalidade forte, mas que "as pessoas se adaptam ao momento que estão vivendo".
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