• Foram detidos os ex-deputados André Vargas (ex-PT) e Luiz Argôlo (SD)
• Ex-deputado Pedro Corrêa (PP-PE), que cumpre pena pelo mensalão, também foi alvo de ordem de prisão
Flávio Ferreira e Stelita Hass Carazzai – Folha de S. Paulo
Curitiba - Mais de um ano após seu início, a Operação Lava Jato levou nesta sexta (10), pela primeira vez, políticos suspeitos de corrupção à prisão. As investigações extrapolaram a Petrobras e atingiram a Caixa Econômica Federal e o Ministério da Saúde.
Foram detidos os ex-deputados federais André Vargas (ex-PT, hoje sem partido), Luiz Argôlo (ex-PP e hoje Solidariedade-BA) e mais quatro pessoas ligadas a eles.
Também houve ordem de prisão contra o ex-deputado Pedro Corrêa (PP-PE), que já estava preso em Pernambuco por condenação no mensalão. Ele será transferido para a PF em Curitiba.
Os políticos só puderam ser presos neste momento, com decisão da primeira instância, porque não exercem mandato e, assim, não têm direito ao foro privilegiado que exigiria que eles fossem investigados em tribunais superiores.
As prisões desta sexta fazem parte da 11ª fase da operação. "Essa investigação vai nos levar a mares nunca dantes navegados", afirmou o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, que coordena as investigações.
Na Caixa e no Ministério da Saúde, novos alvos da operação, os desvios eram feitos a partir de contratos de publicidade, segundo as investigações. Ricardo Hoffmann, diretor-geral da agência de publicidade Borghi/Lowe em Brasília, que detinha contratos com os dois órgãos, foi preso.
Só do Ministério da Saúde a empresa recebeu R$ 112,8 milhões desde 2011. Há suspeita de que a agência tenha pago propina para obter vantagens nos contratos.
Segundo a PF, 10% do valor dos contratos mantidos com a Caixa e com o ministério eram desviados para empresas de fachada de Vargas e de seu irmão, Leon Vargas, que também foi detido.
As empresas eram a LSI e a Limiar Consultoria. Com nenhum ou apenas um funcionário, ambas eram usadas, segundo o Ministério Público, "tão somente para pagamento de vantagem indevida em favor do ex-deputado".
O dinheiro era repassado por meio de subcontratadas da Borghi/Lowe. Intimadas pela Receita Federal sobre os pagamentos, algumas declararam que, de fato, não houve prestação de serviços à LSI ou à Limiar, mas que fizeram os depósitos por orientação da Borghi/Lowe.
Segundo a Folha apurou, nas buscas realizadas nesta sexta, foram encontrados documentos que apontam que dezenas de outras empresas ligadas ao ramo de publicidade fizeram pagamentos às firmas de fachada de Vargas.
Entre os repasses feitos à Limiar, está um depósito da JBS de R$ 200 mil, feito em 2010 --ano em que Vargas foi reeleito deputado federal. A empresa é uma das maiores doadoras eleitorais do país.
Consultada, a empresa confirmou o pagamento, mas disse não saber a que serviço ele se devia. O juiz Sergio Moro diz que "não é possível afirmar por ora" que este depósito teve causa ilícita.
A investigação também aponta que há "razoável prova" de que Vargas realizou "diversas e intensas intervenções junto ao Ministério da Saúde" para a aprovação de uma parceria de R$ 31 milhões com o laboratório Labogen, investigado na Lava Jato.
Outros detidos
O ex-deputado Luiz Argôlo é investigado sob a acusação de ter atuado com o grupo da Labogen, o que ele nega.
Pedro Corrêa, condenado no mensalão, foi acusado pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa de ter recebido R$ 5,3 milhões no esquema de corrupção na estatal.
Os investigadores agora querem saber quem são os demais destinatários da propina, além dos ex-deputados presos. Servidores da Caixa e do Ministério da Saúde devem ser ouvidos pela polícia.
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