sábado, 11 de abril de 2015

Agência investigada tem contratos com BR Distribuidora, BNDES e CEF

• Ex-diretor preso ontem comandou empresa em Brasília até dezembro

Sergio Roxo e Tiago Dantas – O Globo

SÃO PAULO - A BorghiLowe é uma das maiores agências de publicidade do Brasil. Ela ocupa a quarta colocação em ranking que leva em conta o investimento publicitário dos anunciantes atendidos por cada agência. De acordo com a pesquisa, que foi divulgada pelo Ibope em dezembro, os clientes da BorghiLowe movimentaram R$ 3,2 bilhões em 2014.

Entre as principais contas da empresa, estão Caixa Econômica Federal, Petrobras Distribuidora, BNDES, Unilever, Subway e Fast Shop. Além do faturamento alto, a agência também é premiada: ano passado, três de suas campanhas ficaram em terceiro lugar no Festival de Cannes, o mais conhecido do mundo no setor.

Hoffmann, ex-vice-presidente
Sediada em São Paulo e com escritórios no Rio de Janeiro e em Brasília, a BorghiLowe tem, hoje, mais de cem funcionários. O presidente do grupo, José Henrique Borghi, entrou no último mês na lista dos 20 publicitários mais influentes da revista "GQ Brasil".

Ricardo Hoffmann, que foi preso preventivamente ontem pela Polícia Federal, ocupou os cargos de vice-presidente e diretor geral do escritório de Brasília da BorghiLowe até o fim do ano passado. Em dezembro, a Receita Federal fez os primeiros pedidos de informação sobre contratos da agência com o governo.

Hoffmann construiu sua carreira profissional em Brasília, onde trabalha desde 1994. A capital federal é considerada o segundo maior mercado publicitário do Brasil, atrás de São Paulo. A posição se deve, principalmente, às verbas do governo federal.

Sob seu comando, o escritório de Brasília da agência chegou a ter 50 funcionários. Em entrevista publicada pela revista "Propaganda", em novembro de 2012, Hoffmann chegou a falar sobre as ligações entre a política e a corrupção na capital federal. Ele disse que os resultados que obteve no mercado publicitário de Brasília se devem ao trabalho "planejado, focado e dedicado", e não às relações políticas.

Regras para bônus de volume
Na entrevista, ele disse: "De um modo simplista e até reducionista, as pessoas dizem que em Brasília tudo é política. Na verdade, dizem pior, que tudo é sacanagem. (...) Eu penso diferente, e consegui convencer meus pares de que vale a pena acreditar na competência".

Após trabalhar em outras agências grandes, como DM9 e Newcomm, Hoffmann foi contratado pela BorghiLowe em 2006.

Não existem regras para o pagamento de bônus entre agências de publicidade e produtoras, como aconteceu no caso investigado pela 11ª fase da Operação Lava-Jato, segundo o Conselho Executivo das Normas-Padrão (Cenp). A entidade é formada por representantes do próprio mercado e regula as práticas comerciais no meio publicitário do Brasil.

As normas do Cenp estabelecem apenas critérios que devem ser observados nos bônus que são pagos pelos veículos de comunicação, como redes de TV, rádio e jornais, para as agências de publicidade. Essa pratica dá incentivos às agências que compram mais espaços de propaganda.

Pelas regulamentações do Cenp, o veículo deve fazer o pagamento diretamente à agência com emissão de nota fiscal. Não é permitido o pagamento para um terceira empresa, como aconteceu no caso da BorghiLowe e das produtoras. "Os planos de incentivo às agências mantidos por veículos não contemplarão anunciantes", diz a norma do Cenp.

Um executivo do mercado publicitário disse ao GLOBO que o pagamento de bônus entre produtoras e agências é incomum e desperta suspeitas.

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