• A um ano do início da campanha para as eleições municipais, petistas admitem que partido terá agenda difícil. Maior problema é criar discurso para enfrentar a crise e as denúncias
Paulo de Tarso Lyra Correio Braziliense / Estado de Minas
BRASÍLIA – Questionado eticamente por causa do mensalão e dos escândalos da Petrobras, sem o protagonismo político no Congresso – “eles só ganham uma quando nós temos pena”, garganteou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – e com a presidente da República refugiada para não ser hostilizada publicamente, o PT perdeu, nas palavras dos próprios petistas, a capacidade de inovar, enredando-se nos próprios problemas, o que agrava ainda mais o fosso onde a legenda está afundada. A um ano do início da campanha para as eleições municipais de 2016, o PT admite que as perspectivas a longo prazo são sombrias. “Estamos em uma agenda difícil, que não conseguimos superar. Se não atravessarmos esta fase, não poderemos falar de futuro. E nós precisamos falar de futuro, de investimentos, de virada de página”, admitiu o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS).
A agenda difícil a que Delcídio se referiu à reportagem inclui a aprovação do ajuste fiscal em tramitação no Congresso. E elas só agravam o pesadelo petista. Os aliados – incluindo o historicamente fiel PCdoB – cobraram dos petistas que “mostrassem a cara e defendessem o ajuste”, não deixando aos demais partidos da coalizão a pecha de responsáveis por ferir os direitos dos trabalhadores.
Na última quarta-feira, durante a votação da MP 665, que altera as regras do seguro-desemprego e do abono salarial, choveram notas falsas de dólar com as esfinges de Dilma, Lula e do ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, sobre a cabeça dos deputados, com a frase petrodólares. No dia anterior, durante a propaganda eleitoral na televisão, um discurso datado, repetindo o mantra de inclusão social e manutenção de empregos, pouco empolgou os parlamentares.
“A propaganda do João Santana reforça a tese de que o PT não entendeu que o momento é outro”, reconheceu um parlamentar, que pediu para não ser identificado. “Na televisão o que se viu foi um discurso da campanha eleitoral de 2010, que levou Dilma pela primeira vez ao Planalto”, prosseguiu o parlamentar. O problema, segundo este petista, é que milhares de pessoas foram às ruas em 2013 pedir algo mais. “Eles nos disseram: fomos incluídos, não passamos mais fome, temos escola e emprego. Agora, quero mais. E o PT está sem ter o que mostrar para esse povo”, acrescentou o filiado petista.
Há dois meses, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu-se com senadores petistas para avaliar a crise. Defendeu que o partido se reinventasse. “Precisamos buscar novas utopias”, disse Humberto Costa, líder do partido no Senado, durante o mesmo encontro. Nada mudou de lá para cá. “Estamos tão preocupados com o presente que o futuro, sim, nos parece utópico”, disse outro petista.
Panelaço. Ao término da propaganda eleitoral da última terça, tendo Lula como porta-voz direto das realizações do governo, foi feita uma convocação para a militância: o 5º Congresso Nacional do PT, marcado para 11 a 14 de junho, em Salvador. “Até lá, precisamos pensar os nossos caminhos. A situação é complexa mas dá para reagir”, torce o vice-líder do governo na Câmara Carlos Zarattini (PT-SP).
Zarattini, que foi relator de uma das MPs do ajuste, a 664, que introduz mudanças nas pensões e pode ressuscitar um debate polêmico – o fim do fator previdenciário – acha que o PT voltou a ter uma pegada unida em plenário na última semana. Esqueceu de mencionar que a bancada de deputados teve que ser enquadrada pelo ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, para votar com o governo.
“O debate em torno do projeto de lei da terceirização também foi importante, porque trouxe os sindicatos novamente para o nosso lado”, completou Zarattini. O líder governista reconhece que trazer antigos aliados para o seu lado ainda é um caminho muito longo para a reconstrução da imagem do PT junto a outros setores da sociedade, que já foram simpáticos à legenda e que, hoje, batem panela quando a estrela vermelha aparece na televisão. A situação é tão crítica que os protestos já foram devidamente incorporados. “Ninguém se assustou com o panelaço de terça-feira. Talvez porque tenha sido menor do que o do dia 8 de março (15 estados ante 22 durante pronunciamento de Dilma no dia Internacional da Mulher”, disse um desalentado militante partidário.
“A curto prazo não há muito o que fazer”, vaticinou o cientista político da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Rui Tavares Maluf. Para ele, a economia oscilante, o fantasma do desemprego, aliado ao debate ético-moral dificultam a vida do PT. “Mesmo que haja uma reação a médio e longo prazo, acho difícil que o partido retome o tamanho que teve no auge do seu período de poder, entre 2003 e 2013”, acredita o cientista político.
Os problemas do PT
Dilma Rousseff
» A presidente da República, aconselhada pelos seus assessores, tem se isolado do contato público. Não gravou pronunciamento no Dia do Trabalho, não apareceu na propaganda do PT e não foi ao Rio comemorar os 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial com medo de ser vaiada
Economia
» A inflação deu uma desacelerada em abril, mas ainda está acima do centro da meta e só deve voltar ao controle, segundo o Banco Central, no fim do ano que vem. As montadoras do ABC Paulista colocaram os trabalhadores em férias coletivas e as propostas de ajuste fiscal desagradam à base social e aos sindicalistas
Corrupção
» A sucessão de denúncias na Petrobras culminou com a prisão do ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto. O PT é acusado de comandar o maior esquema de corrupção investigado na história do país
PMDB
» A legenda está completamente a reboque do PMDB, tanto na Câmara quanto no Senado. Eduardo Cunha e Renan Calheiros desafiam o Planalto diariamente, a ponto de a presidente da República ter sido obrigada a entregar a coordenação política ao PMDB, do vice-presidente Michel Temer.
Lula
» O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda é um mito na legenda e entre os eleitores mais humildes. Mas os últimos protestos mostraram que o petista, que governou o país por dois mandatos seguidos, não está imune às críticas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário