- O Estado de S. Paulo
Quando os organismos oficiais vêm com estatísticas negativas de emprego e renda, a percepção popular sobre o tema já está embolada há tempos. Não há órgão humano mais sensível do que o bolso. Ele percebe muito antes do noticiário se o dinheiro está ficando curto, se as oportunidades de trabalho rarearam e se o vizinho ou a prima foram mandados embora do emprego. As taxas oficiais só vêm meses depois – apenas para fermentar o bololô.
Aconteceu de novo na semana passada. Os dados da Pnad contínua, do IBGE, comprovam o que as pessoas já sabiam: a desocupação e a busca por emprego cresceram muito nos três primeiros meses de 2015. Não por acaso, foi quando a popularidade de Dilma Rousseff desandou de vez e acabou no fundo do tacho. Qual foi a receita?
O problema se agravou menos pelo volume do que pela rapidez com que o desemprego cresceu. No trimestre mais indigesto para Dilma, a velocidade do crescimento da taxa de desocupação foi recorde: ela ficou 23% maior no período janeiro-fevereiro-março em comparação ao trimestre outubro-novembro-dezembro. Na prática, a fila do desemprego acumulou 1,5 milhão de pessoas a mais em apenas três meses. É muita gente em pouco tempo.
O aumento do desemprego é comum no começo do ano. Em 2013, a taxa de desocupação no primeiro trimestre chegou a 8% (0,1 ponto maior do que a de agora). Mas, desta vez, o crescimento, além de repentino, ocorreu logo após uma eleição na qual a vencedora amedrontou o eleitor dizendo que, se ela perdesse, o adversário desfaria o que ela fizera, e que o desemprego cresceria. Por razões óbvias, muitos eleitores de Dilma sentiram-se traídos.
E os que não votaram nela sentiram-se indignados, pois, em larga medida, a presidente fez o que disse que o rival faria. Misturaram-se os ingredientes para a impopularidade de Dilma estufar como bolo – em um forno aquecido pela radicalização da disputa política e pelas denúncias de corrupção da Lava Jato.
Dilma está descobrindo que o discurso do medo elege mas não governa. Não é uma pioneira entre presidentes, porém. FHC descobriu isso ao se reeleger em 1998, desvalorizar o real em seguida, e nunca mais recuperar a popularidade.
Fim das contas. Morreu o senador Luiz Henrique, que enfrentou Renan Calheiros na eleição para presidente do Senado pregando a independência da Casa e do PMDB. O rival adotou seu discurso depois de vencê-lo. Já Luiz Henrique votou com o governo nas três votações abertas de que participou. Estava mais governista que Renan, mas seu suplente é do PSDB: um voto a menos para Dilma no Senado.
Concentrando poder. Nenhum sistema eleitoral dá chances iguais a todos os cidadãos de se eleger. Ensina o professor Fernando Limongi, da USP, que o único método 100% democrático é o sorteio – que nenhum país adota. Afinal, igualitarismo é bom, mas não precisa exagerar.
A alternativa é algum dos muitos sistemas eleitorais imperfeitos que há pelo mundo. Dentre eles, o mais recomendável – se o objetivo é excluir minorias – é o voto distrital puro. A eleição britânica provou a eficácia excludente do sistema mais uma vez.
Partido defensor da saída do Reino Unido da União Europeia, o UKIP recebeu 13% dos votos, mas ficou com 0,2% da representação: uma cadeira apenas. Os verdes tiveram 4% dos votos mas também só elegeram um parlamentar. Os liberais-democratas acabaram com 8% dos votos e apenas 1,3% das cadeiras.
Como sempre, os super-representados pelo voto distrital foram os maiores partidos: os conservadores, que multiplicaram os 37% dos votos que receberam em 53% das cadeiras; e os trabalhistas, que ficaram com 37% da representação, apesar de terem só 31% dos votos. A única exceção foi o SNP, que alcançou 9% das cadeiras com 5% dos votos. É porque o partido escocês concentra toda sua votação apenas nos distritos escoceses – onde ganha quase tudo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário