Aline Salgado – Brasil Econômico
• Pesquisador da FGV avalia que rigidez do mercado de trabalho com aumento da formalização vai dificultar redução da desocupação
A perda de fôlego da atividade econômica nos últimos anos, atrelado ao cenário de retração previsto para 2015, deixarão marcas fortes e de longo prazo no mercado de trabalho. A tendência é que, mesmo com a recuperação da economia, a partir de 2017, o mercado de trabalho levará mais tempo para se reaquecer, mantendo por um longo período a taxa de desemprego no país em patamares elevados, acima dos 8%.
A análise é do pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV/ Ibre), Rodrigo Leandro de Moura. Enquanto em um ano a taxa de desocupação acelerou de 7,1% para 8%, na comparação fevereiro a abril/2014 frente a fevereiro a abril/2015 — segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal (Pnad Contínua Mensal) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) — para 2016, a perspectiva é que o desemprego continue crescente, chegando a 8,6%. Já a economia, deve voltar ao campo produtivo com o PIB registrando um crescimento entre 0,5% a 1%.
Rodrigo Leandro de Moura explica que o aumento da formalização trouxe uma rigidez maior ao mercado de trabalho e uma nova dinâmica ao processo de contratação e demissão pelas empresas. O que por um lado tem contribuído para que o desemprego suba lentamente no curto prazo — apesar de o PIB ter ficado próximo a zero em 2014 e da perspectiva de retração de até 1,5% para este ano, de acordo com a FGV — , por outro, provocará uma lentidão na abertura de novas vagas em um momento de retomada do crescimento. O que deve ocorrer, na avaliação do pesquisador, só a partir de 2017.
"A taxa de desemprego anual de 2014 ficou em 6,79%, segundo a Pnad Contínua, e deve fechar este ano com uma alta de 1,2 ponto percentual, totalizando 8%. Se não tivéssemos com a economia tão formalizada e houvesse o mesmo contingente de trabalhadores informais da década de 90, o desemprego cresceria 3 pontos percentuais em um ano", calcula.
De acordo com o economista, os trabalhadores assalariados sem carteira assinada representavam 42,1% da população ocupada em 1995 e 43,4% em 1999, segundo dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE. Já o PIB crescia, na média dos anos de 1995 a 1999, 2,1%. Agora no período de 2012 a 2015, a média de crescimento do PIB está em 0,8% — considerando a previsão de retração de 1,5% para 2015 —, já o contingente de assalariados informais ficou em 29,5% em 2014, segundo a Pnad Contínua.
No longo prazo, a dinâmica do mercado de trabalho deve se mostrar mais adversa. A tendência é que cresça o número de trabalhadores em busca de emprego por um período de um ano ou mais. "O desemprego vai aumentar e ficará em um nível elevado por mais tempo. Será necessário que haja uma retomada mais forte da atividade econômica para que esse movimento seja barrado e que a taxa de desocupação volte a cair", observa Moura.
O pesquisador não deixa de ressaltar, no entanto, as mudanças que ocorreram nas modalidades de contratações nas últimas décadas. Por trás da redução da informalidade, está o aumento da fiscalização por parte do Ministério do Trabalho às empresas, bem como a crescente contratação de profissionais na categoria de Pessoa Jurídica (PJ) e de Microempreendedores individuais (MEIs).
"Espera-se que a informalidade aumente e o grau de formalização retroceda, porém em níveis pequenos. A dinâmica do mercado de trabalho é mais complexa agora. Hoje o IBGE aponta o crescimento dos conta-própria e dos empregadores, mas não sabemos se são pessoas tentando investir em seu próprio negócio ou profissionais trabalhando sem carteira, fazendo bicos, ou como PJs", ressalta Moura.
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