Janaína Figueiredo - O Globo
• Ex- líder espanhol pede acesso a presos políticos e diz que estará ao lado deles até " libertação total"
- BUENOS AIRES- A chegada do expresidente do governo espanhol Felipe González a Caracas, domingo passado, provocou verdadeiro terremoto político no país, em meio à situação cada vez mais dramática dos 25 presos políticos em greve de fome, entre eles o líder do partido Vontade Popular, Leopoldo López, que, segundo seus familiares, já perdeu oito quilos. Em reunião com a cúpula da Mesa de Unidade Democrática ( MUD), ontem, González disse que fará o possível para visitar López e outros dirigentes detidos, em alguns casos há mais de um ano, na prisão militar de Ramo Verde. Segundo contou ao GLOBO o secretário- executivo da MUD, Jesús Torrealba, González disse no encontro que “até mesmo no Chile de Pinochet” ( o ditador que governou o país de 1973 a 1990) ele conseguiu ter acesso a presos políticos.
— Felipe nos assegurou que estará ao lado dos presos políticos venezuelanos até o final, até a libertação total — comentou Torrealba.
Na noite de domingo, o expresidente do governo espanhol visitou, após receber uma autorização oficial, o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, detido em seu domicílio por motivos de saúde. Embora tenha decidido acatar a decisão das autoridades venezuelanas, que proibiram a incorporação formal de González à equipe de defensores dos presos políticos do governo de Nicolás Maduro, o ex- presidente espanhol se comprometeu a continuar lutando por sua liberdade em foros internacionais.
— Não tenho outra alternativa a não ser continuar fazendo esforços em âmbitos internacionais — declarou González.
Maduro acusa ‘ eixo’ opositor
De acordo com Torrealba, “o ex- presidente ( do governo) espanhol está profundamente preocupado com o futuro da Venezuela”.
— Ele acha que seria possível adiantar as eleições presidenciais, sempre dentro das normas constitucionais, mas nem assim acredita que será fácil superar esta crise — revelou o secretário- executivo da MUD.
Na conversa, González lembrou que no passado o próprio Hugo Chávez o convidou para visitar Caracas, fato totalmente contrastante com a campanha liderada por Maduro para repudiar sua presença no país. O Palácio de Miraflores convocou manifestações chamadas de “concentrações patrióticas” em toda a Venezuela contra González, que não tiveram grande repercussão.
— Felipe não entende o ataque virulento de Maduro... está ficando cada vez mais claro que o presidente é uma caricatura de líder, sua atitude tem sido patética — enfatizou Torrealba.
Ontem, González também visitou o jornalista Teodoro Petkoff, diretor do jornal “Tal Cual”, alvo de várias denúncias do presidente da Assembleia Nacional, o militar reformado Diosdado Cabello, que o impediram este ano de receber, em Madri, o Prêmio Ortega e Gasset. Petkoff integra a lista de diretores de jornais denunciados por Cabello por suposta difamação e proibidos pela Justiça de sair do país.
— A situação dos presos políticos é dramática, o governo cada vez esconde menos seu perfil ditatorial — afirmou o editor do “Tal Cual”, Manuel Puyana.
Para ele, “a atitude de Maduro em relação à visita de González mostra a falta de democracia que existe na Venezuela”.
— Cuba e Bolívia jamais vão reconhecer isso, mas governos mais sensatos, como o do Brasil, não podem continuar respaldando este tipo de coisas. Nosso país está fora de controle.
Dois dos 25 presos políticos que aderiram à greve de fome iniciada por López ameaçaram ontem radicalizar seu protesto abstendo- se de beber líquidos, caso a Justiça não atenda suas demandas. Os jovens Raúl Emilio Baduel e Alexander Tirado, presos por participar de manifestações contra o governo de Maduro em 2014, exigem, entre outras coisas, que os tribunais do país não adiem mais a realização de suas audiências.
— Os presos são constantemente castigados, até mesmo seus familiares têm dificuldades de acesso. Parecem presos de ditaduras como a de Videla na Argentina — disse Puyana, referindo- se ao general que derrubou Isabelita Perón num golpe de Estado em 1976.
Maduro e outros importantes dirigentes chavistas questionaram publicamente a visita de González. O presidente acusou um suposto eixo Bogotá-Madri- Miami de utilizar personalidades como González para “legitimar sua guerra” contra a Venezuela.
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