Ana Paula Machado - O Globo
• Em maio foram fabricadas 211 mil unidades, pior resultado no mês desde 2005
- SÃO PAULO- Em um ano de ajustes, a produção de veículos no Brasil registrou em maio um novo tombo — apenas 211 mil unidades foram montadas, uma queda de 25,3% em relação ao mesmo mês do ano passado, o pior desempenho para o mês em uma década. O resultado azedou as perspectivas para o futuro próximo. A Anfavea, a associação dos fabricantes de veículos do país, revisou ontem — pela segunda vez em menos de dois meses — as projeções para o setor este ano. Se no cenário traçado anteriormente a expectativa era de uma queda de 10%, agora, a indústria automobilística já prevê uma retração de 17,8% frente a 2014.
Os números são desoladores. Entre janeiro e maio, a produção nacional de veículos foi de 1,092 milhão, um recuo de 19,1% em relação ao mesmo período do ano passado e o menor patamar desde 2007.
Para o presidente da Anfavea, Luiz Moan, as vendas de maio foram “bastante piores” que o esperado. Isso se deveu, em grande parte, ao ajuste fiscal.
— O nível de confiança do consumidor teve uma queda muito forte. Ainda não temos as regras do jogo estabelecidas, pois as medidas do ajuste fiscal não foram todas divulgadas. Isso impacta bastante o setor, e, por isso, tivemos que rever, pela segunda vez, as nossas projeções para o ano — afirmou Moan.
25 mil funcionários parados
Em comparação a abril, a queda na produção do setor foi de 3,4%. E o cenário não é melhor para as vendas de carros, comerciais leves, caminhões e ônibus: a retração em maio foi de 27,5%, e a expectativa é que caiam no ano 20,6% — bem mais que os 13,2% estimados na projeção anterior.
— Este é, de fato, um ano perdido para a indústria automotiva. Se tudo correr como previsto, inflação no centro da meta, medidas de ajuste fiscal surtindo efeito, acredito que em 2016 haverá uma retomada lenta, mas somente em 2017 o país verá volumes acima de 3 milhões — disse o sócio da Méthode Consultoria e professor de Administração da ESPM Adriano Gomes.
O mercado de caminhões é o mais afetado. Segundo a Anfavea, a venda de caminhões no mês passado ficou em patamar idêntico ao de maio de 2003. Foram 6.016 unidades licenciadas, volume 52,7% inferior a maio do ano passado. No acumulado do ano, foram emplacados 31,11 mil caminhões, uma queda de 42,4% em comparação ao mesmo período de 2014. E a estimativa para 2015 é que sejam vendidos apenas 77 mil veículos, ante uma expectativa inicial de 137 mil unidades.
— Em caminhões, retornamos 12 anos — disse Moan, acrescentando que a produção de veículos pesados no mês passado ficou semelhante ao patamar de maio de 1999.
A situação dos empregos também preocupa. Um estudo da associação indica que as montadoras têm 25 mil funcionários em regime de layoff ( suspensão do contrato de trabalho), férias coletivas e licenças neste mês — o que representa mais de 18% do quadro total do setor, de 138 mil trabalhadores. Essas medidas foram adotadas pelas fabricantes de veículos para conter a produção e regular o estoque, que está em 51 dias, ou 361,1 mil unidades.
— Temos claramente um excedente de pessoal. Nossa produção atual gira em torno do mesmo patamar dos anos 2006 e 2007. E as montadoras empregam 138 mil pessoas, o mesmo que em 2010 — afirmou o presidente da Anfavea.
Ontem, a Fiat parou sua produção na fábrica de Betim. Os funcionários ficarão em casa por uma semana. Já a General Motors ( GM) anunciou para este mês férias coletivas em todas as suas fábricas no país. Em São Caetano do Sul, no ABC paulista, 5.500 empregados ficarão em casa de 11 a 28 de junho. Em São José dos Campos, 1.700 estarão de folga entre os dias 15 e 30 deste mês. Em Gravataí ( SP), onde a GM produz os carros campeões de venda da marca, o Onix e o Prisma, a parada será dos dias 15 a 28 de junho.
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