Leandra Peres, Andrea Jubé e Sergio Lamucci - Valor Econômico
NOVA YORK e BRASÍLIA - O novo capítulo da Operação Lava-Jato instalou a crise política dentro do Palácio do Planalto, que até então parecia preservado do escândalo de corrupção na Petrobras. As novas denúncias atingem os dois principais auxiliares da presidente Dilma Rousseff: o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva. Dilma foi aconselhada por outros ministros, durante a viagem aos Estados Unidos, a decidir o destino de ambos assim que retornar ao Brasil. A ordem é para que os ministros se defendam, inclusive com o argumento de que a delação não é prova definitiva.
Dilma despachou com ministros no avião oficial no trajeto para Nova York e demonstrou tranquilidade ao desembarcar nos Estados Unidos. O Valor apurou que a presidente quis saber como foi a repercussão das entrevistas concedidas por Mercadante e Edinho no sábado para prestar esclarecimentos sobre a delação premiada do presidente da UTC, Ricardo Pessoa, cujo teor vazou para a imprensa. Segundo relatos de assessores, Dilma ouviu que Mercadante demonstrou firmeza em suas declarações, mas Edinho, "sinais de abatimento".
Mas quem conhece a presidente sabe que ela não tomará decisões precipitadas. Primeiro porque as denúncias recaem sobre dois de seus auxiliares mais próximos, Mercadante e Edinho. Em segundo lugar, porque dependem de outras provas para serem confirmadas. A avaliação é que o quadro se agrava somente se a delação provocar a abertura de inquérito ou denúncia contra os ministros no Supremo.
Além disso, Edinho personifica a própria Dilma, na qualidade de coordenador financeiro. Afastá-lo seria quase uma confissão de culpa. "Se ela dispensar Edinho, estará dispensando o tesoureiro de sua campanha", contemporizou ao Valor um ministro que integra a comitiva oficial. "E numa campanha, só quem tem mais intimidade com o candidato que o tesoureiro, é o marido ou a mulher", definiu.
Mercadante e Edinho pedirão ao ministro Teori Zavascki, relator dos inquéritos relativos à Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal, acesso à íntegra do depoimento de Pessoa porque até o momento, só conhecem as acusações divulgadas pela imprensa. A advogada Maíra Salomi, que integrou a banca de advocacia do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, representará Edinho no Supremo.
O vazamento da delação na sexta-feira mobilizou a cúpula do governo. Por determinação de Dilma, ministros permaneceram em Brasília no final de semana em sucessivas reuniões para avaliar a repercussão dos novos fatos. O Valor apurou que Dilma ficou incomodada, principalmente, com trechos do vazamento que levantam suspeita sobre a legalidade das doações à sua campanha à reeleição. Ela está convencida, segundo interlocutores, que há vazamento seletivo a fim de desestabilizar o seu governo.
Entre sexta-feira e sábado, Dilma fez duas reuniões de emergência com Mercadante, Edinho e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo no Palácio da Alvorada antes de embarcar para os Estados Unidos. Os três foram mobilizados a prestarem esclarecimentos em entrevista coletiva. Cardozo sublinhou que a delação premiada "não é prova definitiva". Mercadante relatou que Dilma os orientou a fazer todos os esclarecimentos necessários, porque seu governo "tem que ter transparência, atitude e coragem".
Pessoa afirmou que teria sofrido achaque para fazer as doações à campanha, que totalizaram R$ 7,5 milhões. Edinho nega a suposta pressão sobre o empreiteiro e ressalta que o referido valor foi declarado ao Tribunal Superior Eleitoral, que auditou e aprovou por unanimidade a prestação de contas. "Como tesoureiro, dialoguei com dezenas de empresários, nenhum fez qualquer afirmação que insinuasse que meus diálogos não tivessem ocorrido dentro da legalidade, com lisura e transparência", disse Edinho.
Mercadante destacou a legalidade das doações da UTC e da Constran, também do grupo de Pessoa, à sua campanha ao governo de São Paulo em 2010. Confirmou as contribuições no valor de R$ 500 mil, conforme informou o delator ao Ministério Público, mas ressaltou que os valores foram declarados à Justiça Eleitoral e suas contas foram aprovadas. Ele observa que há um "padrão de comportamento" da UTC, que doou para os principais candidatos em 2010. Cita que para o atual governador Geraldo Alckmin (PSDB) a empreiteira doou R$ 1,4 milhão, e que para o candidato do PMDB, Paulo Skaf, também foi R$ 500 mil. "Há um interesse pragmático nas doações", diz o ministro, lembrando que a empreiteira conduz obras em São Paulo no metrô e em rodovias.
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