• Petistas já admitem ser difícil manter o mesmo número de prefeituras
Leticia Fernandes, Marcelo Remigio e Sérgio Roxo – O Globo
RIO e SÃO PAULO - O PT terá de se reinventar nas eleições do próximo ano para manter, pelo menos, o número de prefeituras conquistadas em 2008. Enfrentando a pior crise política e de credibilidade de sua história, que começou com o escândalo do mensalão e se estende até hoje com as investigações da Operação Lava-Jato, o partido corre o risco de reduzir drasticamente o número de municípios sob seu comando em estados como Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. A avaliação parte dos próprios caciques da legenda, a começar pelo ex-presidente Lula, que disse estar o partido abaixo do volume morto.
Desgaste maior em SP
Em São Paulo, onde os petistas avaliam que o desgaste da legenda é ainda maior, dirigentes reconhecem que será difícil manter as atuais 68 prefeituras. A principal preocupação do partido e de Lula é com a capital, a maior cidade do país. A gestão de Fernando Haddad é reprovada por 44% dos paulistanos, segundo pesquisa Datafolha de fevereiro. Aliados são pessimistas ao analisar as chances de reeleição.
Para agravar a situação, Haddad foi citado por Ricardo Pessoa, dono da UTC, como um dos beneficiados pelas propinas do Lava-Jato. Ontem, em São Paulo, ao inaugurar a ciclovia, o prefeito de São Paulo foi lacônico a respeito:
- Minhas contas foram aprovadas pela Justiça eleitoral e estão à disposição de todos vocês.
Questionado se achava que estava havendo vazamento seletivo das informações da operação, o petista desconversou:
- Eu não acho nada. Eu acho que tudo tem que ser apurado: se tem denúncia, tem que apurar. Quanto mais apuração, melhor, porque as pessoas de bem contam com a Justiça - afirmou Haddad.
Para tentar vencer o cenário adverso, Haddad tem distribuído secretarias em troca de apoio na eleição e, assim, maior tempo de televisão. Ganharam espaço no governo PMDB, PDT e PR. Depois da capital, os petistas temem por cidades do ABC, berço do partido. Na eleição de 2012, a legenda perdeu a prefeitura de Diadema, simbólica por ter sido a primeira do país a ser governada pelo PT em 1982. Em São Bernardo, o prefeito Luiz Marinho tem uma gestão bem avaliada, mas está no segundo mandato e não pode se reeleger. A dúvida é saber se ele conseguirá transferir a sua popularidade para seu candidato. Em Santo André e Mauá, os prefeitos Carlos Grana e Donisete Braga enfrentaram problemas de popularidade, e a possibilidade de reeleição deles é vista com desconfiança no partido.
- Nas capitais, a questão nacional vai pegar mais - diz o deputado estadual Luiz Turco, presidente do PT de Santo André.
Líder do PT na Assembleia Legislativa do Rio, Carlos Minc demonstra preocupação com o risco de redução do número de prefeituras do PT. Das 92 cidades, 11 são governadas por petistas, e, segundo o parlamentar, caso o partido não retome antigas bandeiras, não conseguirá eleger nem cinco prefeitos. Minc defende a retomada do diálogo com os movimentos sociais e sindicais e as minorias. Ele ressalta que, entre erros e acertos, o partido não apoiou suficientemente seus prefeitos e deixou de desenvolver políticas públicas.
O deputado estadual Altemir Tortelli (PT-RS), vice-presidente do PT gaúcho, acredita que o partido poderá sofrer um revés nas urnas. No Rio Grande do Sul, o PT tem 73 das 497 prefeituras. Mas não governa Porto Alegre, maior colégio eleitoral, nem Caxias do Sul, o segundo.
- Não tenho dúvida de que as conjunturas econômica e política, se mantidas, criarão impacto forte nas eleições municipais, sobretudo nas grandes cidades. Questões como a situação do governo e a Lava-Jato passam a ser parte da vida dos parlamentos. Se o ambiente de agora for o de 2016, o impacto será grande nas campanhas - disse Tortelli.
Capitais são prioridade
O deputado defende ainda a necessidade de "chacoalhar" a presidente Dilma Rousseff:
- Precisamos chacoalhar a presidente para que ela não se esqueça de que assumiu compromissos no segundo turno, e em grande parte não os está colocando em prática. Queremos que ela reveja seu rumo.
Segundo o vice-presidente nacional do PT, Alberto Cantalice, todas as capitais serão prioridade em 2016. Onde não for cabeça de chapa, a sigla indicará vices. Cantalice afirma que o PT trabalha com a previsão de aumento de prefeituras, tendência observada nas últimas eleições. Mas reconhece que o processo eleitoral será difícil e que precisa ser precedido da recuperação da economia. Em 2008, o PT conquistou 544 prefeituras; em 2012, 636.
- O partido vive hoje sob forte pressão, mas temos militância. Nas quatro eleições suplementares que aconteceram, por exemplo, ganhamos três - disse.
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