- O Estado de S. Paulo
Quando Barack Obama visitou o Rio e Brasília, em março de 2011, a popularidade de Dilma Rousseff deu um pulo. Sem fazer nada além de ouvir o colega norte-americano elogiá-la e ao Brasil, a presidente ganhou 10 pontos em sua taxa de aprovação. Na época, Dilma estava em alta e nem tentou aproveitar a onda provocada por Obama para surfar. Perdeu os 10 pontos em poucas semanas.
Dois anos e meio depois, quando era hora de a brasileira retribuir a cortesia e ir à Casa Branca, alguém soprou no seu ouvido que era melhor a presidente ficar no Palácio do Planalto e fazer cara de indignada, diante da revelação de documentos por Edward Snowden que mostravam que Dilma fora espionada pela Agência Nacional de Segurança dos EUA – junto com meio mundo.
Pareceu aos sábios palacianos boa ideia peitar os EUA e impor condições a Obama. A presidente tentava se recuperar da avalanche que soterrara sua popularidade após os protestos de junho de 2013. Demonstrar independência podia ajudar. Foi assim que Dilma ganhou alguns fugazes pontos em sua taxa de aprovação. Seis meses depois, ela já havia perdido tudo que ganhara com a bravata. E as relações Brasil-EUA tinham regredido meia década.
Agora, com uma popularidade collorida e quase dois anos de atraso, Dilma está finalmente visitando Obama na Casa Branca. Não que o governo norte-americano tenha se curvado aos protestos brasileiros. Simplesmente passou-se tempo suficiente para os sábios palacianos acharem que ninguém se lembra mais disso.
A hora é boa. O presidente norte-americano está na crista da onda novamente. Obama acaba de deixar registrada mais uma imagem histórica ao cantar "Amazing Grace" durante o enterro do pastor chacinado com outros oito negros por um racista branco de 21 anos – e aproveitar o momento para tentar arrancar reformas do Congresso para diminuir as disparidades raciais nos EUA.
No mesmo dia, o presidente ajudou a criar uma onda mundial de bandeiras multicoloridas e multiplicar a hashtag #LoveWins nas redes sociais, após a Suprema Corte dos EUA aprovar o casamento de pessoas do mesmo sexo em todo o país. Pouco antes, Obama comemorara outra vitória, quando o mesmo tribunal enterrou a tentativa de brecar seu programa de saúde universal.
Nada disso mexe muito com a popularidade de Obama em seu próprio quintal – pois lá como cá o país é bipartido entre yankees e confederados, democratas e republicanos. Quem é contra ele por ser negro e liberal continuará sendo contra. Globalmente, porém, esses avanços na legislação projetam uma imagem cada vez mais progressista e realizadora do presidente norte-americano.
E o que Dilma pode ganhar pegando carona na prancha de Obama mais uma vez? Depende muito do que ele disser sobre ela e sobre o Brasil. Se elogiar como elogiou das outras vezes, a brasileira pode ter alguma esperança de "pegar um tubo" graças ao anfitrião - afinal, foi Obama quem transformou Lula em "o cara".
Do lado brasileiro, porém, o governo não aproveitou a onda como poderia. Antes de visitar o Brasil, em 2011, Obama discursou para seus eleitores explicando o que faria aqui. Nada se destacava mais na nuvem de palavras de sua fala do que "jobs". Isto é: ele vinha fazer negócios e gerar empregos nos EUA.
Dilma está tentando a mesma coisa, mas pouca gente sabe. Não houve discurso. Entre outros motivos, porque a cúpula do Planalto estava, mais uma vez, discutindo como fazer para não ser espirrada pela Lava Jato.
Para piorar, está para sair nova pesquisa Ibope/CNI sobre a popularidade de Dilma. A avaliação foi feita antes da viagem aos EUA (mais ou menos na mesma época em que o Datafolha captou 65% de opiniões ruim/péssimo sobre o governo). A infeliz coincidência pode levar à conclusão – precipitada, é verdade – de que nem Obama é capaz de fazer Dilma voltar a surfar.
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