Márcia de Chiara, Luiz Guilherme Gerbelli - O Estado de S. Paulo
O brasileiro vai ter de continuar a enfrentar uma inflação elevada nos próximos meses, com risco de chegar a dois dígitos, apesar do enfraquecimento da atividade econômica. Por ora, as projeções dos economistas indicam que o momento mais crítico está por vir. Entre julho e agosto, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a medida oficial de inflação, pode atingir até 9,5% no acumulado em 12 meses. Se a previsão se confirmar, será o maior nível desde novembro de 2003.
O temor de que a inflação alcance 10% em 12 meses no começo do segundo semestre existe por causa da pouca margem para absorver qualquer aumento de preço, como um reajuste da gasolina, que está defasada, ou um comportamento atípico de preços, como ocorreu com alimentos in natura na prévia do IPCA de junho.
Nesse cenário complicado, também existem pressões de custos que estão sendo repassadas gradualmente para o varejo, o que podem puxar mais ainda a inflação para cima no curto prazo. "Um espirro pode jogar a inflação em 12 meses para 10%", disse o economista da LCA Consultores, Fabio Romão. Ele espera um IPCA 9,5% em 12 meses para julho e de 8,9% para o ano.
No horizonte traçado pela consultoria Tendências, o IPCA deve atingir o pico em 12 meses de 9,3% em agosto. No ano, deve ficar em 8,9%. Alessandra Ribeiro, sócia da consultoria, não descarta a possibilidade de que o IPCA atinja dois dígitos no acumulado em 12 meses nos próximos meses, mas pondera que esse não é o cenário mais provável. "Alguns itens do lado dos administrados estão difíceis de serem antecipados", observou. Em junho, por exemplo, a revisão do IPCA foi causada por uma surpresa: o aumento dos jogos lotéricos, que subiram quase 40%.
Essa também é a avaliação do professor da Faculdade de Economia e Administração da USP, Heron do Carmo. "A inflação corretiva (provocada pelo aumento das tarifas) não acabou."
Resistência
Uma conjugação desfavorável de aumentos de preços está dando resistência à inflação no curto prazo, mesmo com o aperto monetário promovido pelo Banco Central. No início deste mês, a taxa básica de juros, a Selic, subiu pela sexta vez seguida, para 13,75% ao ano e voltou para o nível de 2008.
Entre os fatores que mantêm o IPCA em níveis elevados estão o reajuste dos preços administrados, como energia e combustíveis, ocorrido no primeiro trimestre, e que até agora tem efeitos indiretos sobre os custos dos prestadores de serviços e das indústrias.
"Mesmo que a demanda não esteja em ritmo forte, a indústria repassa alguma coisa da alta de custos para os preços a fim de manter um pouco da margem", explicou Salomão Quadros, coordenador dos Índices Gerais de Preços da Fundação Getúlio Vargas. Ele acha que o pico da inflação acumulada em 12 meses será 9,3% em agosto.
Para Romão, da LCA, a desvalorização do câmbio, de cerca de 30%, entre setembro do ano passado e março, também é uma pressão de custos para as indústrias. Ele ressaltou que os estragos provocados pela crise hídrica nos preços dos produtos in natura deve continuar. Historicamente os preços desses alimentos caem 3,4% em junho, mas as projeções indicam alta de 1,8%.
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