- O Estado de S. Paulo
É a economia, sabichão! A popularidade de Dilma Rousseff só atingiu o pré-sal depois que a confiança do consumidor quebrou seu recorde negativo no mês passado – de novo. O eleitor está cada vez mais desconfiado de que vai consumir cada vez menos. A maior parte acha que seu poder de compra despencou e aposta que vai continuar caindo no futuro próximo. Nenhum órgão humano explica melhor a sorte de um presidente do que o bolso do "homo consumens" – e as novas pesquisas CNI/Ibope só confirmam isso.
A corrupção – exposta repetidamente pelo farto noticiário sobre a Operação Lava Jato – é a cereja do bolo. Misturada ao bolso furado, populariza o senso comum de que a economia vai mal porque rouba-se demais. Os dois fatos, apesar de incontestes, infelizmente não se alinham de modo tão simples nem automático. A não ser que se acredite que, quando o bolso estava cheio, todo mundo era honesto. Por esse raciocínio, bastariam as prisões de corruptos e corruptores para a economia melhorar.
No curto prazo, as canas – mesmo se justas e necessárias – aumentam a incerteza, retraem investimentos e aprofundam a crise. Se perenizadas por condenações em última instância, espera-se que ajudem a sanear as relações público-privadas. Mas o saneamento depende também da reforma do sistema político e eleitoral que alimenta a corrupção – reforma da qual não há sinal. E no longo prazo? Estaremos todos mortos, ensina Keynes.
Enquanto essa hora não chega, talvez valesse a pena fazer algo para matar o tempo. Trabalhar, por exemplo. Mas, como a opinião pública percebeu antes de o IBGE divulgar qualquer estatística, arrumar emprego está cada vez mais difícil. A geração "V", que relutou enquanto pôde a entrar no mercado de trabalho porque seus pais e avós tinham tido ganhos de renda suficientes para sustentá-la, está agora tendo que disputar vagas cada vez mais raras com a geração de seus progenitores desempregados.
Não é por acaso que a impopularidade de Dilma é um pouco menos desastrosa entre os brasileiros com mais de 55 anos de idade. A faixa etária onde se concentram os aposentados sentiu menos os efeitos da deterioração do mercado de trabalho. Tampouco é coincidência que os mais críticos em relação à presidente – e que deram início à avalanche de opiniões negativas que a afoga desde 2013 – sejam os jovens de menos de 25 anos.
A inclusão social pelo consumo funciona eleitoralmente, como funcionou em 1994 para Fernando Henrique Cardoso, em 2006 para Lula e em 2010 para Dilma. Mas, além de depender do vaivém da economia mundial e da habilidade de quem executa a política econômica, essa tática sucumbe à saturação do mercado. E as ruas das metrópoles brasileiras provam diariamente que falta espaço para abrigar mais automóveis. Com seu carro-chefe engarrafado, uma das cadeias produtivas que alavancaram a era petista é das pioneiras nas demissões em massa e férias compulsórias.
Mesmo quando seu apelo positivo não funciona, a inclusão pelo consumo reelege presidentes pelo medo de que a festa acabe. Foi assim em 1998 com FHC e com Dilma em 2014. A ressaca, porém, é sempre maior quando a vitória é medrosa. O tucano só ganhou uma chance em vida de reabilitar sua popularidade porque Dilma estabeleceu um novo parâmetro negativo de comparação tão alto que relativiza quaisquer insucessos do passado.
O dígito de opiniões positivas sobre seu governo pode morrer solitário se Dilma não inspirar algum otimismo econômico. Nem Barack Obama dizer que os EUA enxergam o Brasil como potência global faz diferença. Publicitários gostam de dizer aos anunciantes: se não gosta do que estão dizendo sobre você, mude a conversa. O governo está tão frágil que perdeu a capacidade de mudar de assunto. Só lhe resta falar de economia e ser muito mais convincente do que foi até hoje. Ou fim de papo.
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