- Correio Braziliense
• O escândalo da Petrobras e as “delações premiadas” da Operação Lava-Jato, com crise econômica e as consequências do ajuste fiscal, estão desconstruindo de forma irreversível a imagem do governo Dilma
Nunca antes neste país, talvez nem durante a debacle do regime militar, um presidente da República amargou índices tão baixos de aprovação como Dilma Rousseff. A pesquisa Ibope-CNI divulgada ontem foi de arrasar: a avaliação ótimo/bom do governo é de apenas 9%, o pior resultado de um ocupante do Palácio do Planalto desde a redemocratização.
Confirmando a tendência do levantamento do Datafolha, os números agora divulgados mostram que a popularidade da presidente continua em queda: a atual rejeição ao governo chega a 68% de ruim e péssimo, a maior já registrada pela série histórica das pesquisas Ibope. Consideram o governo regular apenas 21% dos entrevistados.
No levantamento divulgado em abril, a petista já havia empatado com o ex-presidente José Sarney, que, até então, era o governante com a maior rejeição da série histórica do Ibope, com 64% dos entrevistados avaliando sua gestão como “ruim” ou “péssima”. Já 23% consideraram a gestão “regular”, e apenas 12% como ótimo/bom.
Outras notícias negativas foram a rejeição a sua maneira de governar (83%) e o fato de 78% dos entrevistados afirmarem não confiar nela. Imaginava-se que estaria no fundo do poço, mas Dilma não estava, mergulhou mais ainda. É o que a pesquisa mostra.
"Desconstruçao"
A avaliação negativa (“ruim/péssimo”) do governo cresceu quatro pontos percentuais entre março e junho. O percentual positivo (“ótimo/bom”) caiu três pontos. Considerando somente o confronto entre os extremos da avaliação (“ótimo” e “péssimo”), o cenário é ainda pior: somente 1% classifica o governo como “ótimo”, enquanto 50% o avaliam como “péssimo”. Sua impopularidade funciona como uma força centrífuga no governo, provocando mais desagregação na sua base e absoluta incapacidade de coesionar os próprios esforços administrativos.
Na administração, agora impera o cada um cuida de si, a famosa Lei de Murici. É aquela do coronel Tamarindo em Canudos, na debandada da terceira campanha do Exército, comandada por um desastrado Moreira Cesar, o famoso corta-cabeças da Guerra do Paraguai, que morreu esquartejado pelos jagunços nos sertões da Bahia.
Não é à toa que o governo amarga os piores índices de aprovação: é rejeitado em todas as áreas, inclusive no combate à fome e à pobreza (68%) e ao desemprego (83%), importantes bandeiras dos governos do PT. O combate à inflação também é fortemente desaprovado (86%).
Há várias maneiras de conceituar um desgoverno. Na linguagem náutica, diz-se que está à matroca, ou seja, desgovernado. À deriva seria um governo que tem rumo, mas sofre a influência das marés e das correntezas e pode corrigi-lo ainda, para chegar ao porto seguro. Não parece mais ser o caso.
O escândalo da Petrobras e as “delações premiadas” da Operação Lava-Jato, com crise econômica e as consequências do ajuste fiscal, estão desconstruindo de forma irreversível a imagem do governo Dilma. Pelo resultado das pesquisas, estamos diante de um “mau governo”.
Há que se considerar que o Ibope ainda não captou o impacto da delação premiada de Ricardo Pessoa, dono da UTC, que revelou a suposta utilização de recursos do Petrolão na campanha de Dilma à reeleição.
Mas não é somente do ponto de vista ético que ocorre a desconstrução, ela corrói também a principal marca da passagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Palácio do Planalto. As maiores reduções da popularidade ocorrem entre pessoas com renda familiar baixa que residem na Região Nordeste, com baixo grau de instrução e na faixa etária acima de 55 anos. Essa é a base social que garantiu a permanência do PT no poder durante os últimos 12 anos.
Os entrevistados também mostram pessimismo em relação ao futuro. Somente 11% avaliam que as perspectivas em relação ao restante do governo Dilma é “ótimo/bom”, enquanto 61% têm uma avaliação negativa (“ruim/péssimo”). O resultado é um “barata voa” no Congresso Nacional.
A base do governo vota contra o Palácio do Planalto em questões de primeira ordem para o sucesso do ajuste fiscal, como aconteceu na noite de terça-feira no Senado, quando foi aprovado o aumento salarial dos servidores do Judiciário, que chega a 78%. Na Câmara, o governo só conseguiu evitar a aprovação do projeto de reduz a maioridade penal por estreita margem de 5 votos, mas ontem a reduçao foi aprovada de forma abrandada, após uma manobra regimental.
A pesquisa contribui para que o ambiente político fique ainda mais incerto e reforce as pressões internas no PMDB para que o vice-presidente Michel Temer deixe a coordenação política do governo, ainda mais porque as relações dos parlamentares da legenda com o PT vão de mal a pior.
O PT simplesmente resolveu jogar para a arquibancada e deixar o ônus da aprovação do ajuste fiscal para o PMDB, que não caiu na armadilha e passa o abacaxi para Dilma descascar, ou seja, vetar as matérias que inviabilizam o ajuste fiscal. E la nave va.
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