- O Estado de S. Paulo
• Já não dá mais para separar crise econômica de crise política; Uma potencializa a outra e seus desdobramentos são imprevisíveis
Está tudo muito misturado. Já não dá mais para separar crise econômica de crise política. Uma potencializa a outra e seus desdobramentos são imprevisíveis. Eventuais soluções econômicas podem se inviabilizar politicamente todos os dias. Por sua vez, o agravamento da crise da economia tende a acirrar a crise política.
Nessas condições, não há como garantir que agir seja melhor do que deixar de agir nem em que direção agir ou deixar de agir.
Com uma reprovação recorde, que ultrapassa os 70%, em apenas seis meses de mandato, o governo Dilma já não governa e não há quem se sinta governado por ela.
Até mesmo o PT fraqueja porque sabe que, com ela lá, ficaria muito mais provável uma derrota acachapante nas eleições municipais de 2016 e sabe-se lá o que seria de 2018.
Por mais que repita que “ninguém vai tirar legitimidade do voto”, não há firmeza em nenhum pronunciamento da presidente Dilma. Até o vice-presidente, Michel Temer, admite que procura “alguém” para unificar o País e tirá-lo tanto da crise política quanto da econômica. Enquanto isso, a oposição bate-cabeça, não sabe o que quer nem para que lado ir.
O quadro econômico é ruim, porque as contas públicas estão esfarrapadas, porque o PIB vai mirrando, porque a inflação embica para os 10% ao ano, porque os investimentos estão parados e o desemprego começa a doer. Mas não dá para dizer que a situação seja de calamidade. Mal ou bem, ainda há US$ 370 bilhões em reservas externas, o País não vive uma crise cambial, como tantas vezes no passado, e há um ajuste em curso.
O problema é que a crise política escurece tudo ao derredor. Como vem afirmando o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, as empresas não pagam impostos, seja porque perderam faturamento e enfrentam prejuízo - o que, por si só, derruba a arrecadação -, seja porque para elas ficou mais barato adiar o recolhimento de taxas e de contribuições.
A falta de horizonte político tira a previsibilidade da economia. A qualquer momento, as regras do jogo estão sujeitas a mudanças. E uma vez admitido um cenário político em que a presidente Dilma tenha parado de governar, não há como programar investimentos ou tomar decisões estratégicas. Quem seria governo numa hipótese de afastamento da presidente Dilma e com que sustentação política governaria quem assumisse seu lugar?
Além disso, fato inédito na História do Brasil, produz efeitos a Operação Lava Jato, com potencial para tirar repentinamente do jogo político tanto gente importante quanto nem tão importante. Dezenas de empreiteiros estão na cadeia e suas empresas, paralisadas. Todos os dias aparece um figurão disposto a fechar acordo de delação premiada, cujos desdobramentos ninguém ousa prever. Como fazer um jogo sem saber quantos ases, quantos valetes e quantos sete de paus estão no baralho a ser distribuído?
Sabemos que não há lugar para vazios de poder e que sempre “alguém” - o mesmo “alguém” que o vice-presidente Michel Temer mencionou na semana passada - acabará ocupando esse espaço. O diabo é que nunca se pode dizer que as coisas estejam tão ruins que não possam piorar.
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