• Dilma se lança ao ‘enfrentamento político’ da crise, enquanto a economia se deteriora e a barreira na Câmara contra seu governo se mantém intacta
A revelação feita pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, em entrevista ao GLOBO publicada na segunda-feira da semana passada, de que a presidente Dilma não se opunha à redução no número de ministérios foi uma lufada de esperança. Afinal, o Planalto começaria a se mover na direção certa.
Todos concordam que a simples poda na desproporcional rede de 39 ministérios não significa muita coisa diante dos rombos nas contas públicas, medidos em proporções do PIB. Mas a iniciativa, se feita de forma responsável, com a extinção de Pastas de fato desnecessárias — não são poucas —, e corte efetivo nos 22 mil cargos ditos de confiança seriam sinal político forte de que Dilma está mesmo empenhada em recompor as finanças públicas, desarrumadas no seu primeiro mandato. São gestos como este que ajudam a estabelecer um horizonte à frente do país.
Esperava-se que na reunião marcada pela presidente no domingo, com 13 ministros e o vice-presidente Michel Temer, o assunto avançasse. Mas não. Dilma, mostram as evidências, ouve conselheiros que a empurram a fazer o “combate político” da crise.
Noticiou-se que, no domingo, um exaltado Miguel Rossetto, ministro da Secretaria-Geral da Presidência, defendeu como ação para se contrapor à baixa popularidade de Dilma o mantra “dialogar com os movimentos sociais”.
É o mesmo bordão que se ouve no Instituto Lula. Mas é difícil imaginar como os estridentes 71% de impopularidade de Dilma, pesquisados pelo Datafolha, serão reduzidos por meio de comícios para públicos que já apoiam o governo. Entre eles, beneficiários de programas sociais e militantes de grupos que, com Lula e Dilma na Presidência, tiverem acesso fácil a verbas públicas — MST, UNE e aparentados.
Na quinta-feira, a presidente foi entregar imóveis do Minha Casa, Mina Vida em Boa Vista, Roraima, e aproveitou para alertar que ninguém retirará a legitimidade que o voto lhe deu. Ontem, cumprindo a mesma agenda em São Luís, Maranhão, também aproveitou e despachou um recado, este para a nova maioria que boicota o governo no Congresso, mobilizada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Criticou o “vale-tudo” para atingir seu governo, e aqueles que apostam no “quanto pior, melhor”.
A presidente tem suas razões para mandar esses recados. Mas se não fizer política em Brasília e não tomar medidas sensatas na economia, as exortações a militantes serão vazias. Amanhã, ela deve participar, também em Brasília, da Marcha das Margaridas, segmento feminino do MST, algo que leva a supor que se trata de uma tentativa de se contrapor às manifestações de domingo, da oposição. Ora, enquanto Dilma investe tempo e energia no “enfrentamento político”, a economia continua a se deteriorar e a barreira erguida na Câmara contra seu governo se mantém no mesmo lugar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário