Por Andrea Jubé e Lucas Marchesini - Valor Econômico
BRASÍLIA e SÃO LUÍS (MA) - A presidente Dilma Rousseff determinou que ministros petistas convidassem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assumir um ministério. O convite foi formulado a Lula pelos ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), Jaques Wagner (Defesa) e Edinho Silva (Comunicação Social), que se reuniram com o ex-presidente em São Paulo na sexta-feira. Lula rejeitou a oferta porque acredita que sua missão, no momento, é viajar o país para defender o governo, o PT, e o seu legado. Dilma, Lula e o vice-presidente Michel Temer almoçam juntos na quarta-feira (12) para tratar da crise política e de uma possível reforma ministerial.
O encontro entre Dilma, Lula e Temer mostra a disposição de que haja um entendimento entre PT e PMDB por uma saída conjunta da crise. Dilma pediu a Temer que continue à frente da articulação política. Lula chega hoje a Brasília para participar da Marcha das Margaridas, ato das trabalhadoras rurais. Lula volta à capital federal na sexta, para um debate sobre o Plano Nacional de Educação (PNE).
Dilma vem sendo pressionada a promover uma reforma ministerial para aplacar a insatisfação na base aliada. O próprio Lula defende mudanças, a fim de substituir os titulares de algumas Pastas que não exercem influência sobre suas bancadas.
Paralelamente, voltou a pressão no PT e partidos aliados para que Mercadante deixe a Casa Civil: um dos principais auxiliares de Dilma segue apontado como pouco habilidoso no diálogo com a base. Uma fonte do Planalto disse ao Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, que aliados têm buscado outros interlocutores de Dilma, como Jaques Wagner ou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. A presidente, contudo, tem em Mercadante um de seus auxiliares mais leais, um "soldado" - nas palavras de uma fonte do palácio - disposto a todo o momento às missões que ela lhe confiar e não abre mão dele. No momento, Mercadante articula um encontro de empresários com Dilma, que deve ocorrer na próxima semana.
Dilma não designou uma pasta específica para Lula, mas fontes do governo apontam para o Ministério das Relações Exteriores ou, eventualmente, a Casa Civil. Caberia a Lula um posto onde pudesse atuar como articulador político, o que esvaziaria as atribuições do vice-presidente Michel Temer, coordenador político do governo. A projeção de Temer - sobretudo após o apelo nacional para que "alguém" seja capaz de unificar o país - tem gerado temor entre petistas, diante do vácuo do partido na interlocução política.
Paralelamente, Dilma intensifica as viagens na tentativa de melhorar sua popularidade e fazer a defesa de seu mandato. Ontem ela cumpriu duas agendas em São Luís, no Maranhão, ao lado de um de seus principais aliados político, o governador Flávio Dino (PCdoB): entregou 2.020 unidades do Minha Casa, Minha Vida, e inaugurou o Terminal de Grãos do Maranhão, no Porto de Itaqui.
Dilma repudiou o "vale-tudo" de quem põe interesses pessoais ou do partido acima dos interesses do país. Ela pediu "estabilidade" para atravessar "o momento de dificuldade" pelo qual o Brasil está passando. Estavam presentes movimentos sociais ligados ao PCdoB, como as Uniões da Juventude Socialista (UJS), dos Estudantes (UNE) e dos Estudantes Secundaristas (Ubes), que interromperam os discursos oficiais com palavras de ordem em defesa de Dilma. "Estamos passando por momento de dificuldade, mas o Brasil é muito mais forte que esse momento. Estamos em uma travessia, não estamos parados", disse a presidente, exortando os brasileiros a não ficarem "inseguros ou apreensivos".
Dilma também fez menção à "pauta-bomba" que a Câmara vem aprovando. Ela disse que não aceitará "medidas que levem o caos às finanças do governo federal, dos Estados e dos municípios". Ela concluiu alertando que, no "vale-tudo" político, quem acaba sendo atingido pela torcida do quanto pior melhor é a população".
O senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, respondeu às declarações da presidente: "Faltaram mais uma vez humildade e sinceridade à senhora presidente para reconhecer que o vale-tudo ao qual se referiu foi praticado, não pelas oposições, mas por ela própria e por seu governo para vencer as eleições."
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