• A disparada do dólar não reflete só as incertezas geradas pelas instabilidades políticas e econômicas; Tem a ver também com a vacilação do Banco Central
- O Estado de S. Paulo
A disparada do dólar no câmbio interno, de 35,7% neste ano e de 5,4% apenas neste mês (veja o gráfico), não reflete apenas as incertezas geradas pela instabilidade política conjugadas com as da economia. Deve ser vista, também, como resultado da vacilação com que o Banco Central (BC) vem operando o câmbio.
Mesmo contando com um confortável colchão de US$ 370 bilhões em reservas externas, o real está se desvalorizando substancialmente mais do que as demais moedas dos emergentes. É demonstração de que há mais do que simplesmente a crise externa a empurrar o dólar para cima.
As empresas acorrem para o dólar para obter proteção contra a falta de confiança tanto na condução da economia quanto da política. Mas o comportamento do BC sugere que lhe falta clareza quanto ao que pretende.
Para enfrentar muito menos turbulências do que as de agora, a autoridade monetária leiloou mais de US$ 110 bilhões em títulos com variação da cotação do dólar (swaps cambiais) a partir de meados de 2013. Em março deste ano, encerrou os leilões diários e passou a reduzir a rolagem dos contratos que estavam para vencer, dentro do pressuposto de que seria preciso deixar que o câmbio flutuante voltasse a funcionar.
Essa decisão implicou deixar o ajuste dos desequilíbrios para os preços, o que contribuiria para puxar as cotações e, obviamente, para criar inflação e sobrecarregar a política de juros. Este mês, o BC abriu o bico. Desistiu de reduzir sua posição em títulos porque entendeu que precisaria voltar a atender à demanda por dólares. Mas esse recuo não está sendo suficiente para segurar as cotações.
Uma das opções à sua disposição seria usar reservas para reduzir a dívida externa e passar a mensagem de que o mercado está exagerando sua percepção do risco Brasil, especialmente num momento em que as contas externas apresentam melhora. Outra opção seria também vender parte das reservas para atender à maior demanda por moeda estrangeira, posto que reservas são para horas difíceis, como as de agora.
Mas as autoridades parecem perplexas. Podem estar pensando que uma eventual operação de redução de reservas seja entendida como sinal de fraqueza e, nessas condições, possa acionar ainda mais a demanda.
O problema é que a presidente Dilma não diz coisa com coisa e a situação das contas públicas está se agravando, como a divulgação do resultado do Tesouro poderá acentuar nesta quinta-feira.
As agendas supostamente salvadoras das contas públicas vão se sucedendo sem perspectiva de avanço. E a turbulência política, alimentada pelo forte aumento do desemprego, pode aumentar. E não estamos levando em conta o estrago nas atuais relações de poder que ainda pode ser produzido pelo desdobramento da Operação Lava Jato.
Se isso se confirmar, parece inevitável que aumente no mercado a demanda por proteção. A instabilidade cambial foi apontada como uma das causas do fracasso do leilão de concessão de linhas de transmissão realizado nesta quarta-feira pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). É uma boa indicação de como a crise está paralisando a atividade econômica.
É a crise
O aumento da inadimplência reflete as dificuldades tanto das pessoas físicas quanto das empresas. O quadro está acirrando a percepção de risco entre as instituições financeiras e pode restringir a oferta de crédito. Afora isso, o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, observou nesta quarta-feira que o endividamento das famílias e o comprometimento da renda com as dívidas seguem recuando.
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